terça-feira, 20 de abril de 2010

Fulminante



Quero um amor fulminante. Que seja um relâmpago na cruz: crucificado. Um cordão arrancado do pescoço na marra. Que me corte o desespero, que me ajuste mais os olhos do que os óculos, que me arraste com o desejo na boca. Amor mesmo é andar descalço sobre espinhos e senti-los na alma, não na pele.
Quero um amor fulminante. Que não me dê tempo de decorar frases, receitas ou macetes. Que seja pra já, pronto para viagem, pra casar na próxima igreja vestido apenas com a vontade de viver. Perder as estribeiras e sentar na calçada soluçando, varrer a rua pra dentro de casa. Esquecer que existe terra pra viver no céu. Amar mesmo é trazer o céu e a terra para o mesmo lugar.
Que seja um ataque sistemático aos meus conceitos. Que me abale na tristeza, que me replique na alegria. Que me faça perder os cabelos, o juízo, a cabeça, o saldo. Quero um amor fulminante. Que arda em presença e que queime em ausência.
Um amor louco, mas bem lelé-da-cuca que não se contente com qualquer pergunta e que ame mais na resposta. Que me permita ir embora e que volte no domingo mais próximo. Que esqueça meu nome, mas que sempre lembre o caminho para chegar a ele.
Quero um amor fulminante. Que morra em um minuto e que renasça na próxima janela. Que traga nos olhos a graça de uma criança e que não seja adulto em tempo integral. Quero um amor que me estrague o orgulho, que me destrua o egoísmo, que me remova o ceticismo de lugar, que me tire do lugar, que só precise de um quarto para se consumar.
Quero um amor fulminante, daqueles de filme de ação com explosão e tudo. Que comece rápido e termine mais rápido pra fazer continuação. Que tenha sofrimento, que viva de lamento, que ame de acordo com o vento. Que descompasse uma estação, que dependas das outras estações para se manter, que quebre teorias, que viva de hipóteses.
Fulminante. Quero um amor em estado de urgência para refazer a cama, sem deixar vestígios.
Quero um amor doido, doido-de-pedra, que amoleça na ternura, que desmonte no sorriso, que reconte os dedos para lembrar como se desmonta um sorriso. Que esqueça mês, que esqueça dia, que esqueça conta de banco. Que pare para assistir à chuva, que desenhe círculos no papel ao falar ao telefone, que faça aviõezinhos de papel com os folhetos do sinal, que roa os dentes pela ansiedade do encontro.
Quero um amor fulminante. Um tiro inesperado no coração que provoque zumbido aos ouvidos, que retarde as pernas e que costure a boca. Que seja um assalto ao meu nome, um tiro à queima roupa, um enfarto de palavras, que gagueje incompreensão, que pragueje loucuras. Um animal com sede, um barco sem vela.
Quero um amor fulminante.

Leandro Lima

Um comentário:

Anônimo disse...

É dificil encontrar uma pessoa que escreva com tanta verdade e tanto sentimento como você. Me encanto com seus textos, são incrivéis!

Beijos, Karen.