terça-feira, 18 de maio de 2010

Você



Você deve se chamar Fernanda, ou Letícia, ou Laura, ou sabeseláDeus o nome que sua mãe quis te dar! Você deve passar os domingos na casa da vó; e eu na frente da TV. Deve amanhecer abraçando as cortinas do céu; e eu aspirando a poeira da garganta. Deve ter milhões de dúvidas sobre o mundo; e eu deixei de tentar entendê-lo. Deve ter um cachorrinho chamado Mike; e eu adoraria ter que cuidar dele. Ou você nem deve ter cachorro.
Você deve dormir de meias azuis; eu gostaria de passar a noite te vigiando. Você deve ter muitos amigos loucos; eu queria ser mais um nessa lista. Você deve ter preferência por verde, deve ser do signo de touro, deve fazer aniversário dia 11. Ou deve gostar de vermelho, não acredita nessa estória astrológica e nem comemora mais aniversário. Você deve usar um perfume com cheiro de mato, ou deve ser doce, ou cítrico. Você ama prefumes.
Você deve odiar segunda-feira, deve adorar final de sábado à tarde. Você some quando escreve, retorna ao meio-dia para a reconciliação. Você não suporta cigarro, prefere injeção na testa a um papo-furado. Você deve ter o quarto pintado de rosa com lençóis surrados pelo tempo. Ou tem as paredes do quarto surradas pelo tempo e suas unhas devem ser cor-de-rosa. Tem botas que ganhou quando completou 15 anos.
Você sempre volta para tentar de novo quando não consegue. Você não é de desistir. Faz dieta que começa na segunda e termina no fim de semana com uma pizza gigante. Você sempre se olha no espelho pela manhã, isso te faz sentir renovada. Acha difícil resolver os próprios problemas, mas não deixa de dar conselhos a quem se atreve a puxar conversa.
Você procura um amor; eu tento te encontrar. Você caça palavras nos letreiros da cidade; eu finjo que não leio para não encontrar o erro. Você assovia à noite; eu bocejo o dia. Você briga com a própria sombra; eu tento fazer as pazes com a minha. Você se sente mais sozinha quando está acompanhada, eu me sinto mais acompanhado quando estou só.
Você tenta ser mais alegre na dor; eu tenho uma alegria na tristeza. Você acha que não existe mais amor; eu vou sobrevivendo sem você. Você deve ter um irmão mais novo; eu já tive um irmão mais velho. Você odeia matemática; eu engulo a gramática. Você pratica esportes; eu já tive asma.
Você conversa sozinha, muda a cor do cabelo de tempos em tempos, usa uma medalhinha que ganhou do avô antes de ele partir. Você é louca para ter uma casa na árvore; eu sou louco por uma casa no meio da sala de cinema. Você se acha um pouco louca mesmo; eu vou amar toda essa tua loucura.
Você tem estilo próprio, não segue a modinha. Mas dá um imenso valor ao que as pessoas acham de você. Acha fácil dizer “adeus”, mas acha impossível fazer uma omelete. Você nunca ganhou um bingo, nunca aprendeu a amarrar os cadarços direito, por isso, adora andar descalça.
Você anda por aí, perdida entre conversas. Sente que existe algo que ainda vai mudar a sua vida.
Eu ando por aqui, conversando perdido. Tenho a certeza de que você ainda vai mudar a minha vida.
 Leandro Lima