sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Solidão




E quem nunca se sentiu sozinho nessa vida?
Todo mundo é tomado, uma hora, pela solidão. Sensação ruim que entorta a espinha dorsal do contentamento. Não dá pra se contentar. É estar na frente da fogueira e não sentir calor. Estar rodeado de pessoas já não tem peso. Ficamos magrinhos. Perdemos as forças e, por consequência, a vontade de prosseguir é colocada no cabide. Solidão consome mais que álcool. Há quem consiga disfarçá-la pra festa e embebedá-la, mas amanhã continuará lá.
Esperamos por uma carta que se extraviou, uma mensagem que não acompanha um amor, uma ligação que não toca os ouvidos, amigos que se perdem do nosso campo de visão. Parece que a vida fez contrato com o universo para que, nesse momento, você possa se sentir a única pessoa no planeta. E pior do que se achar a única pessoa no planeta, é se achar a última. O desespero passa a dormir no sofá da sala pra te avisar da presença.
É uma “Lei de Murphy”, que só piora. Ir ao cinema, sem companhia, tornou-se o “point”. Os finais de semana são a tortura em forma de dias. Um feriado só serve para melhor acomodar a faca no peito pra doer mais.
Qualquer momento de distração em que você possa esquecer o mundo já é lucro.
Não podemos esquecer que a sua solidão promove as festas dos outros: seus amigos vão estar ocupados demais fazendo coisas legais por aí enquanto você resmunga uns palavrões pro telefone que vai descarregar.
É assim. Mas o que conforta é que, independente da fase boa ou ruim, ela vai mudar. Quase tudo muda. As histórias tendem a se reverter. Algumas pessoas voltam atrás. E a solidão é apenas um momento para que você aprenda a dar valor a algumas coisas que você não havia percebido antes. Não procure respostas; reinvente as perguntas. Não cansar das mentiras é desconfiar da verdade. 
Solidão é uma mesa no meio do quintal em uma tarde de domingo.

Leandro Lima

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Lembre de Tudo Isso



Não vá. Imploro para que não vá. Não suma do meu rosto. Meu rosto é frio sem o vento do teu sorriso. Teus beijos se tornaram meu vício, minha droga, minha súplica. Vamos reconstruir nossos corações no mesmo espaço. Todo esse espaço é teu. Nós somos esse espaço. Você não pertence a outro lugar. Teu lugar é aqui, os teus dedos entre os meus dedos.
Fácil como ligar o rádio pela manhã: quero te ouvir cantar. Quero o teu pescoço emaranhado no meu cheiro. Sua voz é a mais afinada voz para contar essa história. Vou te servir o nosso amor para desabafar a rouquidão da minha voz.
Fique, passe os dedos nos meus lábios e admire. Vai ficar tudo bem, eu sei. Não vou à taberna, pois não quero perder um minuto longe de você. Aqui é o teu lugar. Você foi recontratada à cargo de confiança.
Voltaremos aos lugares que frequentávamos e perguntarei ao garçom. Farei muitas perguntas pra assustar. Ele não responderá. Hesitará na resposta. Insistirei. Não terei mais problemas. Você já me serve. Sempre me serviu. Insistir é ainda acreditar na esperança.
Importo-me onde você está. Fique. Por favor.
Isso poderia ser uma ameaça, mas é apenas um momento de surto, de loucura inventada, de desespero pela perda iminente. Impeça-me da decisão. Temos outras chances. Ainda não usamos todas. Merecemos a tentativa. Pense em tudo o que já vivemos. Volte amanhã. Volte depois e depois de depois de amanhã. Estarei aqui te esperando.
Quero que nos vejam muito. Quero desfilar despretensioso com ar de quem é louco por você. Amo você. O tempo me deu isso. Você me conquistou. Amar é isso, é tão isso que se tornou sublime.  Estou no céu, no mar. Sou árvore, sou teu corpo. Os pássaros cantam porque o nosso amor existe. Eles te avisaram que era amor.
Vamos mudar de assunto. O amor não é descartável. Amor não vai para o lixo. Jamais deveríamos fazer isso. Não se acaba assim. O amor refaz as pessoas. Impossível devolver as lembranças como se devolve um ursinho ou uma carta. Nós somos o símbolo do nosso amor. Não dá pra inventar outro amor. Amor não se inventa, senão não é amor, oras!
Agora você decide. Se quiser, tenho muito mais coisas para falar. Refaço toda a nossa história se preciso for para você ficar. Chorar só vai aliviar a dor. Enquanto eu choro, recomponha-se. Não vou desistir de você, do nosso amor. Serei indiciado pela sua covardia se me der as costas. E mais uma vez: lembre-se de tudo isso. Amor não morre assim. Na verdade, o amor não morrerá, continuará vivendo sem nós dois.
Amo você.
Leandro Lima

domingo, 18 de outubro de 2009

Esquece Tudo Isso



Para os relacionamentos de hoje...

Esqueça. Pegue suas coisas e suma do meu rosto. Não te preciso mais. Seus beijos se tornaram café frio: sem cheiro e com gosto de ontem. Pegue o seu coração e vá tentar uni-lo com outro desconhecido. Você já não faz mais parte do meu espaço. Você se tornou um conhecido estranho.

Fácil como desligar a TV: só apertar o botão e você some. Não quero mais o teu cheiro entranhado no meu pescoço. Sua voz agora é rouca pra abafar o amor que tanto te serviu.

Anda, recolha os teus dedos dos meus cabelos e vá. Não diga que tudo vai ficar bem, pois não vai ficar. Vou à taberna e quando eu voltar não te quero mais aqui. Você não pertence mais aqui. Você não foi demitida, foi rebaixada, foi despromovida.

Os lugares que costumávamos frequentar perguntarão por você e não responderei. Hesitarei na resposta. Não procurarei respostas. Procurar respostas é insistir no problema. Quero outro problema. Você já não serve mais.

Não me importo para onde você vai. Vá. Simplesmente vá.

Isso não é uma ameaça, é uma promessa. Não tente me impedir da decisão. Você teve suas chances. Dei todas as chances que você merecia. E as que não mereciam isso, inclusive. Atravesse a rua e não olhe para trás. Olhar para trás é “amanhã eu volto!”. Não volte! Nem amanhã, nem depois e nem depois de depois de amanhã.

Daqui a dois minutos refaço a alma e você já terá sido apagada do pensamento. Já estarei beijando outro sorriso e me entregando feito bobo para outra desconhecida. Simples assim!

Você não me verá mais por aí. Estarei desfilando pretensioso com ar de quem nunca amou você. Nunca amei você. Não tive tempo para isso. Você não me permitiu. Amar é outra coisa, é mais do que uma coisa, é sublime, é algo depois do céu, mais abaixo do mar, dentro das árvores, fora do corpo. É reconhecer pássaros onde eles não existem. Bem que os pássaros me avisaram que isso não era amor.

Mas não mude de assunto. Descarte esse amor. Amasse-o e jogue no lixo. É isso que se faz quando acaba. As pessoas fazem isso; o amor, não. Devolva-me todas as lembranças junto com os ursinhos e as cartas que te dei. O ursinho é o símbolo do que, um dia, foi o nosso amor. Em casa eu tenho mais papel. Em um tempo reinvento outro amor. Novinho.

Agora vá. Já falei tudo o que tinha para falar. Não vou refazer meu discurso. Chorar não vai limpar a mesa e requentar a comida. Enquanto você chora, retire-se. Bater em retirada é a covardia mais indicada. E mais uma vez: esquece tudo isso. Tudo.

Tchau!

Leandro Lima