terça-feira, 11 de agosto de 2009

Desaprender



Leandro Lima

Mais um encontro descompromissado e sem significado esse fim de semana. Mais um que ficou no “até mais”. Mais um sem empolgação, sem admiração, sem o encanto, sem a vontade de olhar nos olhos do outro e se perder do mundo. A essas alturas do campeonato meu time perde feio pro ritmo das coisas do coração. Desaprendi! Desaprendi como é saber sentir-se importante. Desaprendi a cantar a mesma música durante todo o dia só porque me lembra alguém. Desaprendi a forma que as coisas têm quando se está apaixonado. Desaprendi a perder a conta no meio da noite por causa dos teus cabelos. Desaprendi a deixar de assistir TV pra te encontrar num sonho. Desaprendi a falar bobagens sinceras na frente do espelho. Desaprendi as cores que o mundo tinha ao te ver. Desaprendi a passar horas revendo fotos de nós dois. Desaprendi o caminho de casa. Desaprendi o gosto que você tinha quando olhava pra mim meio pretensiosa. Desaprendi o sabor do teu sorriso no meio do sossego. Desaprendi o brilho do teu olhar ao me chamar de “amor”. Desaprendi como era gostoso passear no quarteirão de mãos dadas quando nada se tinha pra fazer. Desaprendi a intensidade que tinha ir ao supermercado comprar uma lata de leite condensado no final da tarde de um domingo preguiçoso. Desaprendi a me ver fraco quando você chorava. Desaprendi a descontrolar as pernas ao estar ao teu lado. Desaprendi a graça das coisas que só você conseguia encontrar. Desaprendi o papel que escreveu a nossa história. Desaprendi todas as coisas que você achava importantes. Desaprendi a falar de você pra mim só pra não machucar. Desaprendi a acreditar nas pessoas que acreditavam em nós dois. Desaprendi o charme que você tinha ao brigar comigo. Desaprendi a beleza que existia nos teus olhos escuros. Desaprendi você. Só não aprendi o que é esquecer.

domingo, 9 de agosto de 2009

Dia dos pais



Leandro Nobre de Lima

Mais um dia dos pais e eu nem sei o que significa isso. Aperta-me o coração em querer presentear alguém que só existe na memória. Não conheci suas manias, suas vontades, seus defeitos e nem seus medos... É alguém que amo pelo simples fato de me ter colocado nesse mundo planejadamente. Era um homem de pulso e de palavra, segundo o que a minha avó me contava, sentada na cadeira de balanço na frente de casa no finalzinho da tarde e tricotando umas coisas que até hoje não consegui entender como ela fazia tal façanha. Sinto inveja de quem vai a uma loja comprar um presente e até me arrisco em ajudar na compra só pra saciar um pouco o meu desejo, embora seja para outro endereçado, tem um dedo meu. Mas deixando essas coisas capitalistas e marqueteiras de lado... Sinto saudade de quem não conheci. Minhas preces são para um desconhecido que me viu nascer, mas não teve a oportunidade de me ver crescer. Um dia me perguntaram: “e você já superou isso?” e eu respondi: “não, não se supera aquilo que você nunca se viveu”. Fui pretensioso em tal resposta, mas isso não muda e nunca mudou o fato de que o amo da mesma forma que ele me amava. Talvez eu não sofra tanto por não tê-lo vivido. Acho que desse sofrimento Deus quis me poupar. “Pai” é uma palavra que me faz chorar ao saber que, nesse dia, não vou poder abraçá-lo, nem brincar de futebol, nem contar da menina que conheci no cinema, nem pedir pra me buscar no ensaio e nem ouvi-lo brigar comigo porque esqueci de desligar o fogo da panela. São essas coisas que nunca tive e que me torturam todos esses anos. Quando vejo uma criança brincando e correndo desembestada pelo parque fico imaginando o quanto ele gostaria de ter visto o mesmo. Ele seria meu o melhor amigo. Eu trocaria qualquer coisa nessa vida para conhecê-lo e ter uma chance de descobrir o significado do “pai”. Posso não tê-lo aqui em carne e osso, mas o levo no pensamento, na alma e no coração. Feliz dia dos pais, pai. Onde você estiver...