sábado, 20 de fevereiro de 2010

Do Nada



Andei tentando descobrir de onde vem o amor.
Revirei cartas antigas, papéis velhos amarelados, comprovantes de namoro, atestados de sentimento carimbados, letras projetadas, fotos amassadas, beijos arquivados, recibos de relacionamentos anteriores, e nada.
Encontrei nada. Dei de cara com o vazio. 
O Amor não se explica, se condiz, se contesta. Amor é mais que uma palavra ao vento. Amor é um vendaval de desejos fora das mãos.
O amor vem do nada, vem por nada.
“Pior que perder um amor é saber que não terá outro.” É com esse pensamento que sigo para continuar acreditando. Renovo-me todos os dias desacreditando que terei outro Amor. Os dias irão surgir do mesmo jeito com outra cor, com outro calor. Os dias serão os mesmos com outro sol, com outro céu...
Ouço rumores da impossibilidade e me alegro com o quarto vazio. Não preciso de muito para sorrir. Encareço-me do pouco. Penso no que virá depois. Conforto-me para aceitar a inquietação que vem depois.
Envergonho-me da falta de amor pra ter orgulho quando encontrá-lo de novo. Meu Amor não passa de pura esperança, de pura sorte. Admiro um coração partido: foi nele que Amor acabou de passar. Descobri onde estava o dito. 
Invejo até o ódio. Meu coração é decorado com teias.
Tenho desespero por Amor por ser a forma mais tranquila de viver sem sossego. Amar não é responder, é guardar uma resposta, é continuar colecionando perguntas para continuar aguardando. O amor cessa ao se encontrar, ao tentar se responder.
Amar é prejuízo. É zerar a conta do banco. Zerar a cota de nossas limitações e restrições. É desejar estar em outro corpo para não enlouquecer com a falta de controle.
O Amor vem do nada, por nada. Amor vem da parada de ônibus, pela passagem súbita de esperar na agonia.
Prefiro estar destroçado no mais desgraçado dos amores a estar morto fora dele.
Amar é um alento, um suspiro, um alívio. Amar é um rabisco no rabisco. É um desenho pela metade.
Amar é um ensaio para nada. Nunca conseguimos nos preparar, nos separar para nos encontrar mais fortes.
Amor vem do nada mesmo e morre por tudo.
Quando percebemos, já estamos embriagados dele. Amar é viver em uma ressaca neurótica. Não sossegaremos os ombros. Trocaremos as moedinhas para ter mais um pouquinho dele. Trocaremos as figurinhas para conhecer as dores do outro. A nossa dor nem se equipara, não é mais nossa, nem vai doer mais. Nem menos.
Amor vem do nada mesmo. Do nada.
Leandro Lima

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Na Estupidez

 

Complementando o texto anterior...
 
Somos burros a ponto de não aceitar a felicidade, de recusá-la ao bater à porta. Por causa do passado, passamos a temer o futuro e o presente é assassinado por nossas decisões desesperadas e infantis. O presente é brutalmente assassinado, sufocado pela ausência de palavras e dilacerado pela falta de fé. Deixamos as oportunidades escaparem por entre os dedos e não abaixamos para pegar. Sentimentos não se pegam do chão. Já não servem mais.
Não sabemos o que queremos. O que queremos é meramente ilustrativo, tipo comercial de venda de carro. Chega a ser uma ofensa, um disparate, uma afronta. É uma decisão prolixa.
Achei que você aceitaria a mão. Até cogitei um romance, algo de outro mundo que nos fizesse esquecer nossas outras histórias de amor para escrever a nossa. É o medo que nos impede de avançar, de pular no mar, de cortar o próximo pedaço, de sorrir pelos olhos, de segurar outra mão, de abraçar a chuva, de molhar os pés, de comprar outro sonho, de se identificar com outra música, de reconhecer o outro em  uma música... É sempre a mesma ladainha! As pessoas nem se preocupam em aparar as pontas desse medo, usam as mesmas frases feitas para fugir da tentativa. Fogem dele com ele. Não se desapegam, não o largam. Ele deveria ser abandonado na primeira esquina sem titubear. É o mesmo medo de estimação, nem trocam de roupa para parecer menos seu. É um chaveirinho, leva-se no bolso. É como carregar um papel velho na carteira e usá-lo para assuar as palavras que não servem para o coração.
A memória tende a carregar na frente o que há de pior do nosso passado. As coisas boas vêm depois, atrás.
Vai, você pode dizer o que você tinha pra dizer. Eu já conheço cada palavrinha do seu texto. Vamos só formalizar o final da conversa. Você segue um roteiro fajuto criado para acalentar a voz. Você se esconde na própria voz para tentar expressar o que não consegue entender. Você mesma não se entende, acha que eu conseguiria? Sim. Eu consegui.
Insistir na conversa é razão, depois da conversa é mendigar. Passei e mendigar a sua atenção.
Aceito você pelo que você é. Destruiria meu próprio coração para não te ver chorar. Certo ou errado é sempre a mesma coisa. Você vai inventar uma história que vou ser obrigado a acreditar para não brigar com a minha esperança e eu vou ter que desfazer a mala para continuar em casa.
Somos opostos, completamente opostos. Opostos se atraem pelo mistério que é não se conhecerem e se distanciam pelo descaramento da diferença, é uma insuficiência de afinidades, falta atração, falta vontade. O desejo morre logo, logo. Rápido para não ter tempo de pedir ajudar. Vira uma incompetência amorosa. O amor é descartado. Podemos ser qualquer coisa, menos amantes. Resta a amizade, que veste o amor com outra roupa. Amizade se torna o amor que não deu certo. É a despromoção do amor.
Não vou tentar conquistar o que não quer ser conquistado.
Leandro Lima.