sábado, 19 de setembro de 2009

A Minha Saudade



Para quem ainda não sabe...


Minha saudade fala, resmunga e boceja. Minha saudade já beirou o desespero por não mais saber. Noites e noites acalentada em um sofá a esperar. Até arrisco dizer que são irmãs: saudade e solidão.

Minha saudade já quebrou o pescoço olhando o que não devia. Minha saudade bateu palmas quando não devia. Minha saudade é uma tristeza que me alegra no meio da conversa. Minha saudade já me deixou pedindo carona pra voltar pra casa. Minha saudade já fugiu de mim e voltou envergonhada do viu.

Minha saudade chora mostrando os dentes com um sorriso desmanchado. Minha saudade se vira sem mim para poder viver; eu, vivo depois.

Mas como esquecer o que não sai do coração? Como não sentir?

Minha saudade foi passear com a esperança e voltou com a desilusão na sacola (eu falei, ela não quis me ouvir!). Minha saudade custou caro: custou lágrimas, custou suspiros, custou minutos perdidos, sonhos cancelados, conversas cortadas, beijos extraviados...

Minha saudade acha que é esperta e se esconde embaixo da cama. Minha saudade alça voos bem altos sem sair do chão. Minha saudade tem nome de gente que já morreu e sequer eu conheci. Minha saudade é bicho de estimação. Minha saudade é “quem sabe um dia, de novo”. Minha saudade é um chiclete que ainda não perdeu o gosto doce.

Minha saudade carrega papel e caneta para não deixar o tempo apagar o que todo mundo faz questão de crucificar. Minha saudade coleciona fotos e beijos em uma caixinha de sapatos. Minha saudade é uma criança perdida na multidão. Minha saudade passou a existir antes mesmo de se desprender de você. Minha saudade ninguém conhece. Minha saudade é um prêmio sem vitória, sem final feliz, mas que conforta!

Minha saudade só sabe contar até três. Minha saudade é burra. Minha saudade mudou de endereço sem avisar. Minha saudade aperta sem abraçar e abraça para apertar mais. Minha saudade começa e termina em uma aventura que virou lembrança.

Minha saudade é uma gostosa loucura. Minha saudade é brasa. É um cheiro que não desgruda da pele. Não cessa. É uma contradição. É outro nome que eu dou para um troço chamado amor. Minha saudade é, ainda, uma forma meio torta de dizer “Eu ainda te amo!”.

Leandro Lima

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Medo




Hoje senti certo medo. Aquele medo que esmurra a barriga. Aquele que te olha de cara feia e não volta pra tentar a história outra vez.

Medo é um cercadinho que te aprisiona na estupidez. Medo é quando a coragem teve preguiça de acontecer.

Perdemos muitas oportunidades quando o medo nos segura a mão.

Pensei em te conquistar, mas o medo da rejeição reinou sobre os meus ombros. As mãos suavam feito cachoeira e na minha mente eu já tinha perdido a linha da tua cintura.

Medo implica indecisão. Mas indecisão é algo que nos confunde só porque já sabemos o que queremos (gostaríamos de saber outra coisa).

Hesitei. Perdi o trem pela boca. As pernas estagnadas na tortura da impossibilidade. Fui burro.

Queria ser mais louco pra ser igual a você. Você, que tanto me mostrou a loucura...

Você, bem à minha frente e eu, congelado, perdi a pergunta pras mãos que fugiram pela porta de trás. Tentei encontrar outras maneiras de acenar pra você, mas todas acharam de entrar em pane justamente naquele momento.

“Medo”, “hesitar” e “se arrepender”... Exatamente nessa ordem!

Hoje sou um estranho. Não me reconheço na fala de um sorriso. Nem tenho reflexo no espelho (tenho medo de espelho), vejo uma imagem quase que parecida à minha – é a sua.

Um dia eu consigo me encontrar de novo. Sem medo. Sem você.


Leandro Lima

domingo, 13 de setembro de 2009

O Que Eu Fiz




Não sei mais o que fazer. Tenho uma bomba alojada no peito. Um poder que conheço meticulosamente pra assustar. Meu coração remendado com esparadrapos escorrega entre as conversas. É revisitar o museu da tortura todo final de noite. É uma música que corta a garganta pelo choro.

Foi algo que eu disse?
Foi algo que eu fiz?
Foi.
Amei você!

Você nem existe mais, mas ainda consegue estragar as folhas do meu quintal. Não dá pra fugir de minhas próprias contradições, elas acabam me encontrando na próxima esquina. É inevitável não falar seu nome e me surpreendo quando te guardo de volta na memória. Uma voz tenta o diálogo e morre na cena seguinte. É a aventura que me alimenta. É o difícil, o impossível, o proibido. Peço a Deus que me coloque de novo no teu caminho pra descobrir o que você não me contou.

Minha esperança não é minha e espera por você. Eu estive do seu lado sem me importar com o meu. Saio de um problema e me encaixo em outro. Não é outro, é o mesmo, repintado. Às vezes não é suficiente, às vezes transborda...

Choro de felicidade por lembrar que você me existiu, que você me seguiu. Não consigo largar o teu semblante. É algo que me acompanha no bolso, caminha comigo no peito.

Fui covarde. Egoísta. Tive que ser pra não me perder. Perdi você.

É uma faca que me vela toda vez que tento te deixar. Encarreguei-me de não te abandonar. Ainda seguro a tua mão pelo pensamento. Não vou soltar.

O amor consegue convencer o tempo do contrário: consegue levá-lo pra comprar a tarde e esticar a pipoca.

Amor de verdade o tempo não destroi. Muda, mas permanece.

E como conter essa vontade de ter o que não se pode mais? Deus deve saber. Reza pra ele que Ele te ouve, porque eu não sei. Fiz questão de não descobrir para não conter. Quero você aqui: guardada dentro de mim. Desse jeito o amor permanece inalterável, nunca estragará. Eu o alimentarei, todos os dias que ainda me restam, porque você me ensinou assim...

Leandro Lima