terça-feira, 22 de junho de 2010

Querido Amor



Essa minha mania de ficar querendo te colocar em papel, em recibo. Um desejo absurdo pelo controle. É como querer guardar um pouco do vento em um potinho de vidro. Você é o descontrole, é se despertencer, se desprender. É ter para passar adiante.
Surto pela tua falta, pela tua posse. Surto mais ainda quando estás comigo. Uma vontade fatídica de te querer em cativeiro quando você é a liberdade. Você sempre firme e forte no peito, eu sempre sobrando na segunda frase. Você nada tem a ver com nossos medos, nossas incompreensões, nossas verdades alteradas. Não merecemos a tua oração. A tua fé é inacabada; a nossa termina na primeira esquina que dobramos. Tua esperança vive de banho tomado.
Você é puro, imenso. Um eclipse. Faz nosso corpo tremer com uma respiração ao ouvido. Você se esparrama, se derrama, mas não se perde. Nós te apequenamos, fazemos de ti um problema, um cálculo a ser resolvido. Você não se resolve; nos complica. Você sorri chorando. Chora quando mais queríamos sorrir. Você queima pelo excesso, boceja pela ausência.
Você foge quando te precisamos, aparece quando esquecemos a sede. Largamos tudo para te ter e, quando conseguimos, te abandonamos. Somos crianças brincando de não saber o que se quer. Só sabemos quando não podemos mais ter. Quando não conseguimos mais suportar a tua força, te culpamos. Não aceitamos a tua longevidade. Você é grande no detalhe, é pequenino no orgulho. Faz o cheiro de um doce virar uma lágrima, faz um domingo afundar nos olhos. Faz querer a dor quando poderíamos muito bem acolher a paz.
A gente deixa de se bancar para viver às tuas custas. Podemos enganar o outro, menos a ti. Seguiremos sozinhos quando você chegará à eternidade. Os corpos arrependidos, desesperados, mas incapazes do retorno. Você não se vai, permanece. Bate à porta e a gente finge não estar em casa. Somos estúpidos. Inquietos.
Você é a loucura descompassada. Nós somos os loucos tentando andar na linha. Todos os dias te procuramos, fazemos pactos, rezamos, suplicamos, acreditamos em horóscopo barato, escrevemos na areia umas iniciais alegando que seria para sempre, colocamos o nome do outro em teu lugar. Desculpa, Amor, você não tem culpa. Nunca teve. Nós que te entregamos ao outro como se fôssemos capazes de compreender a tua grandeza. Nossas expectativas te matam aos pouquinhos, até que deixamos de te alimentar. Ficamos no meio da estrada sem saber voltar. Te confundimos com paixão.
Você é sacana. Cobra da gente uma declaração, é quase uma obrigação, um imposto de renda amoroso. Seremos descartados depois de declarados. Você pedirá mais. Não teremos como depositar mais. Nem retirar. Não teremos mais. Sacrificaremos o rosto para te manter.
Você é a força na qual deixamos de acreditar para acreditar mais depois. Um sumo extraído de nossas dores. Uma agonia bem querida.
Peço desculpas mais uma vez. Vou sempre pedir desculpas. Sou um tolo que não deixa de acreditar em ti. Vou morrer com a mão estendida para te sentir.
Querido Amor, logo estaremos juntos de novo.

Leandro Lima