quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Amor Verdadeiro



As coisas passam bem mais depressa.
Já não consigo sentir o cheiro da mobília antiga riscada pelo tempo.
Não me sobram ossos pra contar a pele.
E quem precisa de pele?
O amor é pele que se veste quando vem.
Reli nossos recados nos muros que o vento encontrou outra maneira de reapresentá-los na memória.
Cansei de gritar o seu nome em silêncio.
Senti um gosto amargo no peito, vi seu rosto onde não deveria.
Corri pra onde não podia e voltei a ser criança pra visitar o que restou de você.
Descobri o que todo mundo imagina, mas poucos conseguem ter.
Uma música marca o beijo que mantém a alma nutrida.
Nem faço ideia de quanto tem faz. Foi ontem. Foi agora. Sempre será.
É imensurável.
Foi pintado no coração, cravado na alma, preso no pensamento e tatuado na memória.
Amor só é verdadeiro quando morre.

Leandro Lima

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Separo para casar

 
Dia desses cheguei a uma conclusão um tanto quanto reversa. Muitas coisas tendem a seguir um padrão e, dificilmente, fogem disso. Relacionamentos são assim: você conhece alguém, interessa-se por ela (e), apaixonam-se, namoram, vivem um monte coisas, caem na rotina, perdem-se um do outro e acabam terminando o relacionamento (claro que não necessariamente nessa ordem e com muito mais coisas, mas é só um exemplo). Existe esse padrão; do bom para o ruim; da admiração para a falta dela; do amor para a morte dele.
Agora imagina só se pudéssemos fazer o contrário: começamos pelo término, com todas as coisas ruins que, quase sempre, ficam dos relacionamentos. Traição, abandono, mentira, falta de cumplicidade. Falta de amor... Depois experimentamos a rotina: a falta de vontade, de espaço, de companheirismo, de entusiasmo, a perda da admiração. A perda de todas as coisas. E é aí que as coisas começam a se ajeitar. O ruim já foi. Começamos a vislumbrar o outro mais pelas suas qualidades, pelo jeito como fala ou como deixar de falar certas coisas, pelo encantamento que causa quando conhecemos, pelo mistério que é se apaixonar. Em vez do sentimento se perder, ele começa a se encontrar pra nós. Reapaixonamo-nos.
Começamos, agora, aquele momento mágico de suspiros no meio de uma tarde de terça-feira. Só que agora todas as coisas ruins já passaram. Em vez de o amor começar a ser enforcado, ele começa a respirar. Um alívio. Queremos, agora, estar cada vez mais perto e não cada vez mais longe. Pensaremos agora nas palavras que não saberemos espalhar na hora do encontro e não nas palavras que vamos recolher. Em vez de sangrar mais, as feridas só cicatrizariam.  Pensaremos com ar de criança e não com a tempestade que é ser adulto. Nada mais pode dar errado. Seguiremos somente com as coisas boas que ganhamos depois das ruins.
Seria muito louco. Em vez de tentar esquecer, faríamos questão de manter avivada a lembrança. A alma seria alimentada de momentos bons e não de vontades mórbidas. É como achar um pássaro ferido, levá-lo para casa, tratá-lo e fazê-lo renascer. E quando ele se for fica a ternura abstrata que eternizou um sentimento. Já pensou se pudesse ser assim?! 

Leandro Lima