sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O Meu Amor




Quero um amor errante, nada muito certo. Quero ser um erro. O acerto. Quero um amor pra contar, pra mexer, pra intrigar. Quero um amor que me gaste, que me resgate. Quero ser um porto seguro, um pouco torto e meio rouco, mas bem louco!
Quero ver você se desconsertar. Quero que chore, que xingue, que perca o fôlego, mas que me ensine como sorrir depois. Quero um amor pra esquecer de quem sou e me usar de novo como novo. Quero um amor de raça, que entorpeça, que enlouqueça, que cante bem alto sem letra formada. Quero um amor pra chorar, pra lamentar, pra esquentar. Quero ser seu e que seja minha.
Quero embrulhar os olhos nos lençóis e torcer pra que dê tudo certo quando o frio passar. Incerto é o rastro de alguma coisa em lugar nenhum. Quero que minha vida siga a sua mesmo pra não ir. Quero ver você onde você não pode ficar. Quero que sinta.
Encontro restos de ontem no hoje que ainda não sabem se são ou se serão. Quero saber o que te agrada para atrapalhar a tristeza. Quero olhar nos teus olhos e ver que pode ser mais do será. Quero que sinta.
Molho as mãos no medo de tentar para enxugar na certeza do que pode acontecer. No fim do dia quero ser o número certo pra endereçar o seu destino. Quero que me chame.
Quero que minta, minta pra afastar o tédio, para driblar o cansaço, pra encobrir o fracasso. Um bom remédio é ficar acordado para poder sonhar de novo. Quero ficar na sua estante, bem distante, bem ausente. Quero que a distância seja cômoda. Quero que corra pra achar, para descobrir o que não nos contaram. Quero que sinta.
Quero que ame a carne mais que a alma deseja. Quero que seja.
Quero que apareça. Quero que esqueça. Quero que escute que te chamo. Quero saborear os perfumes do teu cheiro. Espero socorrer os teus delírios com os meus afagos. Quero que suma.
Quero que surja em mim como fogo que queimar para evaporar. Quero encontrar em mim um coração que bate à porta pedindo abrigo, pedindo morada. Quero invadir você com minhas loucuras e devaneios. Quero atravessar o corpo com a confiança de mãos dadas. Quero que volte.
Quero fazer as pazes com uma bobagem sincera. Quero atitudes que me façam repensar as minhas. Quero um amor pequeno para abraçá-lo grande depois de sorrir. Quero ser o presente rasgado à unha na alegria contida do dia-a-dia.
Quero que se importe, que se deporte do seu coração para o meu sem chance de voltar. Quero rever todos os conceitos que julgava certos. Quero que tema e que teime pra não se dispersar. Se tudo isso não acontecer... apenas me ame.
Leandro Lima

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Meu Querido Amor

 Fabrício Carpinejar
Nunca escrevi diretamente para você. Sempre havia uma destinatária em seu lugar. Eu abreviava o caminho, não sei se recebeu alguma notícia minha desde a adolescência ou se as cartas nunca passaram pela poça de seu sopro. Hoje coloquei meu blusão verde bordado 38. O prazer da gola coçando a barba me animou – sou movido ao tato. É dia de inverno, próprio para sentar com uma cadeira dobrável no pátio e expor o rosto à enxaqueca do sol. Não me importa que seja obrigado a tomar uma aspirina depois. Dependo de sua claridade inconsolável.

Desculpa, Amor, você não tem nada a ver com o nosso destino. Nós terminamos antes que você termine. É assim. Desistimos enquanto você prossegue. E apenas você, Amor, que irá até o fim, onde deveríamos acompanhá-lo, você vai até a nossa velhice: as mãos concedidas debaixo dos lençóis. Nós ficaremos na meia-idade, os braços pedindo um táxi. Nós o negaremos secretamente, apesar das pontadas violentas e da saudade dolorida. Negaremos inclusive que o conhecemos, que você é nosso encontro. Seus traços serão coincidências, nunca a soma óbvia dos nossos perfis e lápis de cera.

Nossas dúvidas escondem você. Porque é necessário confiar naquilo que ainda não sabemos. E queremos saber tudo antes mesmo de ter vivido. Nosso nervosismo não tem tranqüilidade para aceitá-lo.

Você tem paciência; nós, tempo. Sei que você não se fez sozinho, não posso escrever em seu lugar, você não é o que confio, é o que confio mais o que confia quem eu amo. E quem eu amo não poderá falar por você igualmente. O amor está entre duas conversas, duas ânsias, dois passados. Não é o desejo da direita, nem o da esquerda. É o que está entre os dois. Flutuando.

O amor é se despertencer. É sentir para passar adiante, não é sentir para ficar com aquilo. É não suportar sentir mais sozinho. Eu me desacostumei com a minha solidão.

Pela pressa de ter o amor só nosso, só nosso, somos capazes de destruí-lo com palavras. Não temos nada para odiar naquela pessoa. Estávamos agradecidos pelo espanto provocado pela sua chegada. Irreconhecíveis pela felicidade que nos fazia imaginar em dobro. Na noite anterior, éramos a vontade desesperada de entender. No dia seguinte, nenhuma vontade de compreensão. Não há persistência, há precipitação.

Mentir para uma pessoa não é tão grave quanto mentir para você, Amor. Mas os casais mentem que você foi um engano, um engodo, uma mentira. Chegam a dizer que você não existiu. Você fica perdido entre as defesas e ataques de ateus, céticos, agnósticos, crentes.

Somos fracos e desabafamos o que não acreditamos. Despejamos tanta violência sobre aquele que amamos para provocar. Para desencadear uma reação. Somos cruéis em nome de amor, para não sujar o nosso nome.

Somos imundos, desolados, irascíveis. Por não agüentar alguma coisa não resolvida em nossa vida. Algo aberto, inacabado. Uma fresta nas venezianas e não mais dormimos. Desconfio que nossa curiosidade está toda no ódio. Não toleramos ter que esperar. Se ele ou ela não vem agora é que não me deseja mesmo. Concluímos logo. Feitos perfeitamente para a fúria, incomodados com a brisa.

Procuramos decidir de vez se aquilo presta ou se não presta, se vale ou se não vale. Ansiamos por um veredicto, uma salvação, uma paz. Penso que desejamos a separação para não sofrer mais. Produzimos a separação, é a resposta mais rápida. A resposta mais rápida é vista como a certa. Um alívio para seguir com o trabalho, e mostrar clareza aos amigos.

E os amigos bem-intencionados não vão nos ajudar. O que disserem a respeito do que aconteceu não será suficiente, o amor é um dialeto restrito aos dois que se amam.

Não reparamos no principal, Amor. Não reparamos que quando amamos o tempo não faz a mínima diferença. Amar será sempre recente: será ontem. Anos juntos e a sensação é que foi ontem. Anos separados e a sensação é que foi ontem. Ontem, ontem. Não há anteontem no amor. As lembranças mais longínquas já são corpo.

É uma pena, Amor, que somos mais decididos do que amorosos. Amar é não decidir. Decidir é terminar sempre.

Aguardo seu retorno.

Abraço.

domingo, 6 de setembro de 2009

Felicidade




Felicidade é escrever com letra maiúscula. É rasgar as roupas sem se importar com a linha. Felicidade é ser bobo. É brincar de ser criança no meio da tristeza. É roer as unhas com pimenta e não sentir. Felicidade tem mais é nome de gente. Suspeito que felicidade seja um amor vestido pra dormir: aquele que você não precisa se preocupar que quando você acordar ele vai permanecer com os cabelos entres os suspiros.

O sentimento de felicidade é tão grande quanto o nome. Fe-li-ci-da-de, o mesmo tempo que demora para pronunciar demora para aparecer. Felicidade é um pedacinho de momento no tempo no qual descobrimos o valor de um sorriso, de uma atitude, de um objetivo. Felicidade é saudade arquivada de boas lembranças. É caminhar sem necessariamente andar. É tomar banho de chuva e não gripar. É ganhar uma caixa de bolinho no dia do aniversário e achar o melhor presente do mundo.

Felicidade é ouvir o próprio nome pronunciado no vento. É quando se para de procurar um coração. Felicidade é devorar uma panela de brigadeiro. É sentir que os dias não passam em vão. Felicidade é ter apelido. É ter amigos. É ter amigos para dar apelidos. É ter um cachorro que babe em você ao chegar em casa. Felicidade é não querer esquecer. É aprender. É um grito no sossego.

Felicidade é uma lágrima de paz que aperta sem abraçar.

Leandro Lima