sábado, 26 de setembro de 2009

Viver




Pensei no tempo e o perdi para o relógio que fugiu com os ponteiros. Passou dando “tchau”. Foi-se.

Pensei na vida e não me contentei com a pergunta que ficou sem resposta para me calar.

Pensei no amor e me frustrei. Abandonou-me. Na verdade, eu o abandonei por ser covarde. Por ser egoísta... O amor não nos abandona; nós o abandonamos por incompetência.

Pensei em ser criança e a responsabilidade de ter que ser “gente grande” puxou minha orelha e levou a vontade de andar de bicicleta.

Pensei em chorar, mas as lágrimas se negaram a continuar lavando o rosto pelo mesmo motivo calcificado que me esmaga o coração.

Pensei na morte que me sorriu cortando os dentes e querendo a alma assim que eu virasse as costas.

Pensei em fugir, mas a realidade me trouxe de volta para casa de roupa trocada.

Pensei no mundo lá fora e voltei pro quarto envergonhado do que vi.

Pensei nas oportunidades que deixei passar pelo medo e rasguei a raiva com as unhas.

Pensei nos amigos que perdi para aprender que vivemos pela metade sem eles.

Andei pensando nas coisas, mas dei um tempo no pensamento pra não perder a graça de viver.

Fui ali: viver.

Leandro Lima

domingo, 20 de setembro de 2009

Desistir




Então tá! Vou falar de "sonhos". Aqui todo mundo tem um. Inquestionável. E são esses sonhos que não nos deixam esmorecer nas encruzilhadas dessa vida. Nossos sonhos são outro alimento pra alma. Alguns sonhos são desfeitos, refeitos, repintados, retraçados, mas quando é sonho, mas sonho mesmo, quando você nasce predestinado àquilo, pode vir o que vier que nada vai ser mais importante do que a vontade de conquistá-lo e de vivê-lo (não nessa ordem). Às vezes, juntamos alguns pedaços, unimos com outros que ficaram guardados no armário e bolamos outras maneiras de revisitá-los. Reinventamos maneiras e frases para renovar as esperanças e prosseguir com o que foi interrompido. Recomeçar é sempre bom e faz bem. O prazer de poder recomeçar tem gosto de fruta tirada do pé, fresquinha. É reconfortante. Sem os sonhos os dias se tornam estranhos e deixam de ter cheiro e cor; parecem água. Insípidos. É amor sem correspondente. É amar ausente de corpo e do corpo. É dirigir sem rumo, sem rota, sem ponto. Qualquer vaga serve. E o que importa é levarmos o nosso sonho pra onde formos, enrolado em uma jaqueta para não deixá-lo sentir frio. Sonho é parte do corpo mesmo. Quando deixamos os sonhos de lado é como guardar a perna na gaveta, é como pendurar os braços no varal, é como trancar os olhos no porão. Ao longo do caminho pensamos milhares de vezes em desistir, por todos os motivos que o universo coloca à nossa frente, mas existe algo dentro de nós que fala mais alto e não nos deixa sucumbir. E é isso que nos faz continuar colocando ar nos pulmões. Às vezes precisamos “dar um tempinho”, esperar a poeira baixar, respirar novos ares, bolar novas ideias e logo em seguida colocar a caneta pra escrever mais um capítulo de tentativas. Mas sem, nunca, desistir. Desistir tem gosto amargo, tem gosto de sapato velho. Desistir é perder duas vezes. Desistir é fracassar antes mesmo de tentar, é antecipar o fim sem um provável “final feliz”. É perder pra você mesmo. Lute pelo seu sonho, seja ele qual for. Não importa! É seu e só seu! Desistir é antecipar um pouco da morte.

Leando Lima