terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Antes de Dormir



Canto com os pássaros. Faço um coral mágico, um coral bobo, despretensioso. Assoviar é a ação mais espontânea e involuntária que posso revelar. Nenhum ato foi ou será ensaiado. Agora sei a generosidade que guarda os pássaros. Há ternura entre suas asas.

Passei muito tempo achando que estava acreditando em vão, acreditando que você não viria, que desistiria para poder cansar. Que viveria recontando a história para tentar achar um propósito. Cheguei a confundir as palavras, troquei os livros de lugar, coloquei legendas para não deixar o tempo apagar a vontade de te encontrar. Relembrar é ainda um jeito de ter.

Você inundou a minha vida.

Já não me pertenço mais. Sou mais as tuas manias, sou mais você para poder ser eu, depois. Dependo do teu cheiro, do teu sorriso, do teu beijo para poder continuar. Descobrir as tuas manias é a tarefa mais gostosa que eu poderia executar. Você se tornou um exercício, um ofício, a prática mais preciosa de todos os meus textos. Porque são as pequenas coisas que nos prendem ao outro. Não é a proximidade física que nos une, é a afetiva que nos mantém ligados, sintonizados. É muito mais do que aquilo que escrevi, é o que deixei de escrever para descobrir ser mais forte.

Antes de dormir, você leva um copo com água para a cama. É o símbolo mais dedicado que descobri em alguém. Preenche a cômoda com o copo. A vasilha reina solo. Foi aí que descobri que te amava. Você faz da cama um mar, uma imensidão para se perder. Os lençóis são nossas conchas, posso sentir o vento ao tocar o teu corpo, teus cabelos são as folhas ao conversarem com as nuvens. Você torna aquele momento o nosso santuário, um templo. Seremos protegidos eternamente enquanto o copo estiver espiando. Nenhum por do sol será tão elegante quanto te ver de pijamas.

Sou o teu jeito destrambelhado de dirigir, o teu medo de adiantar a frase, de perder o sono e os óculos. Feridas cicatrizam com o tempo. Não perderemos mais tempo com o que costumávamos perder. Seremos nossos próprios confidentes, mais amantes.

Hoje, é difícil tentar explicar o que acontece. A felicidade emburrece. Em minha cabeça, roda somente uma frase, um nome e um rosto.

É fácil escrever sobre o amor fora dele, difícil é escrever com ele ao lado.

E nem adormeceremos, já somos um sonho antes mesmo de dormir.

Obs.: Amo você.

Leandro Nobre