Penso que o Tempo não muda nada. Não torna as coisas mais fáceis ou mais simples. Só acabamos por aceitar, por definitivo, o que não aceitamos no seu início com o passar dele. As pessoas não mudam. Elas metem para não perder o que achavam que tinham e, com isso, confirmar sua incompetência diante do amor.
O Amor nada tem a ver com nossas idiotices. Ele pode ser o responsável, mas não o culpado. O Amor nada tem a ver com nossas manias de ferir o outro e depois correr para reaver o erro, caçar a nota para recorrer à Garantia e chorar por não haver mais os 3 meses. A cicatriz permanece para você sentir o baque outra, outra e outra vez.
Amar é querer bem, é deixar livre e ser livre, é ter ciúmes em pingos, na dose certa. É se prender na liberdade de ter o que não é nosso para aceitar a sua partida quando tiver que ser assim.
E, quando erramos, a primeira coisa que fazemos: “Eu te amo, me perdoa!”. Como se isso fosse frase-pílula: tomou, curou. “Eu te amo” e “Bom dia” têm o mesmo peso, servem para não deixar de sermos educados quando declarados. A declaração é um suicídio. Você provavelmente morrerá sozinho. Eu morri.
Difícil curar um coração quebrado, partido, destroçado (ou como quiser chamar). Não existe remédio. Nem tempo serve como remédio. Não curou a minha. Mas pode curar as suas. A minha dor não é mais estranha que a sua só porque é minha, é tanto quanto a sua.
Aprendi a lidar com a dor velando por ela, rezando o terço bem baixinho com uma oração bem longa pra entristecê-la, para pirá-la. Não vou pirar sozinho. Tive que sofrer cada pedacinho dela para, assim, saber como ela deixaria de funcionar depois de um tempo.
Dores ficam geladas depois de senti-las por completo. Guardo minhas dores na geladeira como comida para o outro dia. Preciso senti-las de novo para não aceitar mais o gosto de ontem.
É sofrendo que descobrimos como somos e o que somos capazes de sentir. Cada um sofre do jeito que consegue, ou do jeito que não sabe, ou do jeito que não aprendeu. Não existe jeito para sofrer. Dor não tem cartilha.
Existe mais aprendizado na dor do que no Amor. Somos indigentes sem as lágrimas. Todos queremos voar, mas ninguém aceita que antes do voo vem a queda, antes do príncipe vem o sapo, antes do elogio vem a ofensa, antes do amor vem o ódio.
Alguns se privam de sentir o corte, fazem vista grossa para não parecerem menores por sofrer. Sofrer não apequena ninguém. Não querer sofrer, sim. Soberba não querer a dor.
Vivemos machucados, mas ninguém mostra a ferida. É mais fácil mostrar a hostilidade, mostrar os dentes, mostrar a raiva do que contar a carne. Pedir ajuda? Fora de cogitação.
Mostro minhas dores para quem quiser ver e conhecer. É por elas que sou capaz de amar justamente para esquecê-las.
É uma tragédia não querer sofrer na dor. A morte vem em não saber superá-la.
Leandro Lima