quarta-feira, 10 de março de 2010

Na Dor


Penso que o Tempo não muda nada. Não torna as coisas mais fáceis ou mais simples. Só acabamos por aceitar, por definitivo, o que não aceitamos no seu início com o passar dele. As pessoas não mudam. Elas metem para não perder o que achavam que tinham e, com isso, confirmar sua incompetência diante do amor.
O Amor nada tem a ver com nossas idiotices. Ele pode ser o responsável, mas não o culpado. O Amor nada tem a ver com nossas manias de ferir o outro e depois correr para reaver o erro, caçar a nota para recorrer à Garantia e chorar por não haver mais os 3 meses. A cicatriz permanece para você sentir o baque outra, outra e outra vez.
Amar é querer bem, é deixar livre e ser livre, é ter ciúmes em pingos, na dose certa. É se prender na liberdade de ter o que não é nosso para aceitar a sua partida quando tiver que ser assim.
E, quando erramos, a primeira coisa que fazemos: “Eu te amo, me perdoa!”. Como se isso fosse frase-pílula: tomou, curou. “Eu te amo” e “Bom dia” têm o mesmo peso, servem para não deixar de sermos educados quando declarados. A declaração é um suicídio. Você provavelmente morrerá sozinho. Eu morri.
Difícil curar um coração quebrado, partido, destroçado (ou como quiser chamar). Não existe remédio. Nem tempo serve como remédio. Não curou a minha. Mas pode curar as suas. A minha dor não é mais estranha que a sua só porque é minha, é tanto quanto a sua.
Aprendi a lidar com a dor velando por ela, rezando o terço bem baixinho com uma oração bem longa pra entristecê-la, para pirá-la. Não vou pirar sozinho. Tive que sofrer cada pedacinho dela para, assim, saber como ela deixaria de funcionar depois de um tempo.
Dores ficam geladas depois de senti-las por completo. Guardo minhas dores na geladeira como comida para o outro dia. Preciso senti-las de novo para não aceitar mais o gosto de ontem.
É sofrendo que descobrimos como somos e o que somos capazes de sentir. Cada um sofre do jeito que consegue, ou do jeito que não sabe, ou do jeito que não aprendeu. Não existe jeito para sofrer. Dor não tem cartilha.
Existe mais aprendizado na dor do que no Amor. Somos indigentes sem as lágrimas. Todos queremos voar, mas ninguém aceita que antes do voo vem a queda, antes do príncipe vem o sapo, antes do elogio vem a ofensa, antes do amor vem o ódio.
Alguns se privam de sentir o corte, fazem vista grossa para não parecerem menores por sofrer. Sofrer não apequena ninguém. Não querer sofrer, sim. Soberba não querer a dor.
 Vivemos machucados, mas ninguém mostra a ferida. É mais fácil mostrar a hostilidade, mostrar os dentes, mostrar a raiva do que contar a carne. Pedir ajuda? Fora de cogitação.
Mostro minhas dores para quem quiser ver e conhecer. É por elas que sou capaz de amar justamente para esquecê-las.
É uma tragédia não querer sofrer na dor. A morte vem em não saber superá-la.
Leandro Lima

domingo, 7 de março de 2010

Quando Não Se Sabe Para Onde Está Indo



Toda vida daria um livro? A minha, definitivamente, não.
Um romance, uma biografia, auto-ajuda, nada disso. Nem um livro de piadas eu conseguiria ser. Nada. No máximo, conseguiria ser um bloco de recados: “Fui ali”, “Já volto”, “Não sei se volto”, “Valeu!”, e com, no máximo, dez folhinhas para não entediar.
Sou para casar, mas não estou para o enlace. Não tenho família, mas faço questão da dos outros. Prezo a amizade como forma de vida. O Amor já é a vida.
Ainda não alcancei o sucesso profissional. E daí? Tem gente com 40 anos que ainda não conseguiu. Ainda não conquistei uma mulher pela alma. E daí? Tem gente que não tem alma. Ainda não consegui o que desejo. E daí? Tem gente que nem sabe o que desejar.
Sei muito bem o que quero de fato. Tanto sei que faço questão de querer saber outra coisa para me sentir menos assustado com o mundo. Ou melhor, com as pessoas. As pessoas estão do avesso, o mundo, não. O mundo nada tem a ver com a falta de Amor. Em todas as suas formas.
Quando não se sabe para onde está indo qualquer lugar serve – já dizem por aí. O coração aceita qualquer abrigo. Qualquer onda de diversão encaixa perfeitamente na cintura e serve para aliviar a pressão nos ombros. Tenha sempre uma via de escape.
Os amigos que achei que fiz se foram. Amores não voltaram para rever a história. Perdi um amor e nem pude guardá-lo na amizade. Se morresse hoje, nem dívidas eu deixaria. Seria um sopro no vão. Um beijo no espaço. Nada aconteceria. Morrer é piada sem graça, bem mal-contada.
Sou um fracasso total na alegria, não tenho como bancá-la. Sou um milionário somente na tristeza.
Chorar é sorrir com a saliva nos olhos.
Amo a prazo, bem parceladinho. Um carnê cheio de folhas para não me preocupar. Deve ser algo menos doloroso. Rir no desespero é inventar uma alegria. Uma alegria que não existe e que nunca existiu.
Posso olhar para o passado e ver todas as oportunidades que deixei escapar. Se me perguntar se me arrependo de alguma coisa, a resposta será ríspida: “Sim, de muita coisa”. Beira a arrogância dizer que não.
Somos orgulhosos demais, esnobes, insensíveis, imaturos e inconsequentes para certos assuntos. Para outros, viramos um cachorrinho, agarrado na perna do outro. Não largamos. Tendemos a achar que o outro é nosso, que as coisas são nossas. Possessivamos tudo: meu, meu, meu. “Meu carro”, “meu namorado”, o “meu amor”, o “meu lugar”...
Não largamos certos sentimentos por achar justamente o oposto do óbvio, do que deveria ser achado. Está na cara que já não funciona mais. Larga e aguenta calado, oras! 
A cegueira toma conta, já não se ouve mais, estacionamos no meio do parque para não pensar. Não há o que se pensar, se pensarmos, desistimos. Pensar é quase sempre desistir. Abandonar o que já não serve ou o que serviria muito bem.
Somos crianças brincando de viver.
E nunca aprendemos a lição.
Leando Lima