terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Quando Começa O Amor

Série: Abstrato

N

Dói. Dói se interessar por alguém. É quando as dúvidas se amontoam na sua frente, quando os livros se confundem com as páginas em cima da mesa, quando não se sabe se a aceitação virá, quando ainda tenta descobrir o melhor jeito para o beijo. É quando a intimidade ainda está de armadura. Quando não se sabe se esta carta será correspondida.

É uma colisão. Um choque que viaja todo o corpo, em todas as direções. O frio na barriga é inevitável.

Porque você tem medo de amar sozinho, de parecer bobo diante do carinho oferecido, é como brincar de pique-esconde e permanecer contando os olhos fechados. Medo de deixar o coração tomar a frente. Medo de tropeçar entre um suspiro e outro. Medo de andar mais do que as pernas permitem e ter que parar e esperar que o outro o alcance. Você estará salivando frases, quer despejar para o mundo a alegria que exala.

Porque amar é estar no mesmo degrau, na mesma linha dos ombros. Nada a mais, nada a menos. Nada pode ser tirado ou colocado fora do tempo. A simultaneidade faz parte do amor. A declaração não pode soar falsa, deve-se ter cuidado ao imprimi-la, qualquer ausência de acento vira o sacrifício da folha.

Dói, mas não machuca. É a única dor boa de sentir. Sentir que existe um perfume começando a inundar a sua vida. Sentir que a longa busca começa a ser encerrada. [Sentir que vem vindo um novo estado, que já se tem uma nova paixão].

É o período em que se arriscará mais do que se pode. Colocará a cabeça a prêmio para a novidade, para descobrir o gosto que tem, para descobrir a felicidade causada. É quando vai se modelando o sorriso. O modo como come o sanduíche mais parece uma brincadeira de criança, como tem paciência em ler todo o cardápio antes de pedir o que já se tinha decidido.

Nada valerá mais do que a demonstração de confiança; o passe-livre para se entrar na vida do outro. É como ganhar a chave do carro do pai, como ganhar a infância de volta. Mascar chicletes de cor rosa para matar a ansiedade vai tomando espaço. Desejar, cada dia mais, ter o outro perto, bem mais perto. Adotar a nova rotina, aceitar as novas manias, o novo jeito de se fazer compras.

A novidade fará você acordar do outro lado da cama, fará desejar outra cama além da sua. Fará perceber que a solidão tirará férias de você. Fará você descobrir que o quarto esconde outros cheiros, outros mistérios, outros segredos. Será um conto aberto. Uma história em branco, será preenchida a cada dia, uma letra de cada vez.

O cheiro se tornará presente, contínuo, um absurdo de saudade quando na ausência. Não terá tempo para lamentos ou murmúrios. Murmurará o mesmo nome, no mesmo sotaque, repetidas vezes. Não entenderá mais nada de nada.

Não acreditará na possibilidade, porque não se sabe quando começou o sentimento. Deixa de acreditar agora para acreditar mais depois. 

O amor não vem, ele acontece.

Leandro Lima

3 comentários:

N. disse...

Acho "vício" uma palavra muito forte, uma palavra ligada às coisas que fazem mal, como o cigarro, as drogas e o álcool. Vício soa como algo em que se está preso e você queira largar um dia e quando largasse entraria numa crise de abstinência, pois você sabe que faz mal, mas precisa largar.

Procurei no dicionário os significados da palavra vício, e achei:
1. Defeito ou imperfeição. 2. Prática frequente de ato considerado pecaminoso. 3. Tendência para contrariar a moral estabelecida. = depravação, libertinagem 4. Hábito inveterado. = mania 5. Dependência do consumo de uma substância (ex.: vício do álcool). 6. Erro de ofício. 7. Erro habitual no uso da língua. 8. Mau hábito ou costume que as bestas adquirem.

Por isso, prefiro algo mais leve, que soe como o bem querer, que soe apaixonante, algo que não soe como uma dependência, que soe como o “querer ter” e o “correspondido”. Poderíamos substituir o “vício” pelas seguintes palavras:

"Sentir que vem vindo um novo estado, que já se tem uma nova paixão."

Agora, é só deixar acontecer. O que vc acha?
Beijos

Fernanda Zamboni disse...

Em alguns parágrafos Você conseguiu definir o que muitas pessoas não encontram definição quando começam se relacionar com outras pessoas. Texto maravilhoso, lê-lo só fez com que me tornasse mais fã do seu blog.

Keli Wolinger disse...

Quando acontece muda a rotina, a cor do dia o cheiro da pele, não se pode reprimir. Abram-se as portas e deixe o amor invadir.

Abraços