quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Um Dia A Menos


Fim de ano tem cheiro de tinta fresca, de roupa nova e de presentes bem coloridos. As luzes aparecem para amedrontar, falam o que ninguém consegue escutar. Acaba o ano e você não conseguiu realizar o que pretendia no mesmo natal do ano passado.

É hora de rever os planos. Vale ficar atento ao que fomos para não nos repetir.

Chega a data e sinto que fracassei. Um fracasso que vem com um medo de bônus por ter que encarar o dia 24 como um dia qualquer: engolir a seco o dia em que perdi o pai. Fico em um fogo cruzado entre os festejos e o luto. Porque quem perdeu alguém não tem mais 365 dias no ano, vai celebrar com um dia a menos, com um calendário cortando as mãos. O dia 24 de dezembro não existirá no mapa.

Tento não me consumir e acabo me cobrando. Cobro-me pela saudade que não ficou para trás, pela ausência que ainda sufoca, pela falta da letra quando quis uma carta. Sobra saudade nessa época. Bate saudade de tudo: do pai, da cidade em que morei, dos amores que perdi. Os dias ficam cada vez mais curtos e as horas nos arrastam pelos cabelos. Passamos a viver a esmo. Qualquer coisa que mude o roteiro diário vale. [Ainda sinto saudade dos teus cabelos no meu rosto.]

Dezembro traz uma magia consigo, um poder de apaziguar o cansaço dos ombros, uma rebeldia disfarçada de bondade. Dezembro é mais do que natalino, é amoroso. Meus melhores amores foram em dezembro. Tive um beijo de Chayla depois de uma apresentação de natal na escola, muito acanhado em oferecer a jaqueta e os lábios. Ela aceitou os lábios. Tive o amor de Cau depois de um brinde à “nossa felicidade” em uma confraternização em família, muito acanhado em oferecer a taça com champanhe e o coração. Ela preferiu a taça.

A cabeça entra em conflito, em choque. Como ficar triste? Mas como ficar alegre? Posso me sentir triste por, um dia, ter sido muito feliz? Às vezes, permitimos que uma tristeza anule duas alegrias. Compreensível. Deixamos que um orgulho anule todo um amor.

A minha tristeza vem da alegria, uma depende da outra, uma pode vir da outra, não frequentaram a mesma escola, mas dividem a mesma educação. Um péssimo exemplo pra quem vive da normalidade.

Minha alegria é ter amigos para poder colocar apelidos, minha tristeza é não ter os apelidos por perto. Minha alegria é burra, minha tristeza converte a lágrima em redenção. Minha alegria enfurece, minha tristeza pede passagem para se abrir. Ambas sofrem do mesmo mal: têm o amor como mãe.

Porque não estou triste, mas também não estou alegre. Deixa, o natal resolve a confusão.

Leandro Lima

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