terça-feira, 2 de novembro de 2010

O Que O Tempo (Não) Diz



Não sou adepto a “dar tempo” em relacionamento. O tempo nunca ajuda. Nunca me ajudou. Pode servir para colocar as ideias no lugar, mas não o amor. Amor não se coloca no lugar. Se colocar, é porque morreu, acabou, encontrou um túmulo. Amor não é como um par de meias que você embola e guarda para usar depois. Não se coloca na prateleira para admirar.

O amor foi feito para ser usado agora: bagunçado mesmo, bem mexido, com a poeira ainda no ar, assoprando os cabelos para fora do rosto, com o grito vindo do peito, com o chão se abrindo e a boca rasgando. Amar é agora.

Minhas ideias não precisam de lugar, precisam de um corpo para ler. Só. Fora isso, as ideias brigam, entram em conflito verbal, brigam desesperadamente por um juízo ideal. Uma forma talhada de lidar com a solidão. Ou para não chegar a lidar com ela...

A vida chega a ser revoltante. Uma experiência frustrante, não-linear. Você fica perdido. Sem pistas. Acredita em coisas que costumam desabar em um simples domingo. Passa a pensar nas palavras antes de colocar os pés na calçada para bocejar o vento quando o vento não vem. Abre o verbo antes para lamentar depois. Escolhe a pior maneira para dizer a melhor coisa. E o que você achava que era o melhor acaba virando um erro, um arrependimento.

O tempo não salva, não arruma a estante, não traz amor nenhum de volta. Quantos voltaram pra você? Quantos permaneceram? Nós é que salvamos o amor, nós que desarrumamos a prateleira em busca dele, nós que voltamos por ele...

O tempo somente afasta os corpos, dá tempo para respirar o que não se precisava, abre espaço para outras pessoas te tirarem o tempo. Dá para conhecer melhor o sol da tarde. Sozinho.

Vai ser “vivendo a vida”, “deixando acontecer”, “vamos ver no que dá”, “o que é nosso volta” que não se vive o amor, ou se vive uma coisa ou outra. Amar sempre vem primeiro, viver vem depois. Sempre.

Só se escreve uma canção de amor quando o amor se esvaíra. Você escreve para não esquecer o que viveu, para não perder os quadros e as molduras que te preenchiam de alegria. Minhas melhores canções foram escritas na ausência, no desespero, no meio da lágrima, com uma gota de saudade suando a letra no papel. Ontem escrevi uma canção...

Cultive o que tem, mesmo que não seja o que você sempre quis. Você se acostuma. Depois, passa a reclamar porque tinha o melhor e não sabia. Agora sabe.

O tempo não diz nada. Não deixe que o “tempo” decida o que o seu coração deseja, o tempo vai fazer o contrário. O tempo todo. Todo o tempo. Não deixe o amor perder a convicção.

Ao invés de dar tempo ao tempo, que tal dar mais amor?

O amor tem que ser agora, às pressas, pra já. Amor para depois já não é mais amor, já virou amizade.

Leandro Lima

4 comentários:

Mariana Dore disse...

concordo muuuuuuuuuuuuuuito!

;D

Dana Vianna disse...

ARRASOU!
PERFEITOOOO!


Concordo PLENAMENTE!

Amar como se hoje fosse o último dia!

;*

Geovana disse...

Lindo texto... Tb fiz minha primeira canção qdo meu amor se foi. Hoje não tenho ninguém pra amar e esse vazio é pior que amar sozinho.
Amor é tudo de bom!

bjo.

Anônimo disse...

Me emocionou ...
Abraço