quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Sem O Fio Dos Dedos


Com muita tristeza...

Não há caminhada que dê jeito. Não há receita da vovó ou macumba louca que nos fará ficar juntos. Nossos objetivos se perderam de vista, fomos à falência. Somos completamente distintos. Perdemo-nos em meio a ataques violentos com as palavras. A mágoa permanece para diminuir todos os motivos que tínhamos como aliados. Decreto a morte de mais um Amor.

Existe um protocolo amoroso a se seguir, uma linha de entrega e ajustes a se fazer para não perder a admiração. Ao longo do caminho, perdemos a noção do que é certo e melhor para o relacionamento, confundimos o melhor com o certo e acabamos errando a mão, erramos na dose. Transborda. O coração falará mais alto. O coração não pensa, só fala, manda. Qualquer ciúme ou sacrifício que ultrapasse a linha do preferível passa a ferir o espaço do outro e começa o corte na pele. Sucessivos cortes que afastarão dois corações. Começa, aí, o estremecimento do sentimento.

O que você achava que duraria uma eternidade passa, agora, a ter o tempo contado. Deixará de existir um pouco a cada dia, (porque ficar junto não mostrou o contrário). As ligações não mais virão ao meio-dia, os apelidos carinhosos serão extintos, passará a ser chamado pelo nome de batismo: como um desconhecido. Nem chegaremos às cartas. Ficaremos somente nos bilhetes com frases pela metade, com a letra com medo da mão, com medo de escrever mais do que suportaria o coração. Com medo do beijo que se tornou dispensável. Restarão as músicas para lembrar.

Tudo veio de encontro às hipóteses: virou certeza. A certeza da incompatibilidade. Uma Teoria da Conspiração que invalida todo o resto. Nada mudará a ordem das coisas, nem chá, nem chuva, nenhuma lágrima limpará o nosso nome.

Não dará outra: as coisas começarão a se perder. Você já perdeu amigos, perdeu o sono, perdeu a paz, o sossego, perdeu os modos. Você afundará nos próprios erros, porque amar é um erro. O melhor erro a se cometer. Você passará de um lindo poeta a um insensível monstrinho, por não mais querer mastigar a repetição, a impossibilidade da tentativa. Suas palavras não serão mais suficientes. Seus atos se esconderão na primeira gaveta que encontrar. Suas atitudes não chegarão a falar mais, você ficará mudo, uma porta. Fará cirurgia para remover a dor do peito. Removerá o nome dela do telefone. Criará armadilhas para assassinar o cheiro das roupas. Será insuportável. Não encontrará saída, será indiferente, começará a suportar a perda porque não há mais uma solução querida. Desistirá do papel.

Algumas pessoas não são feitas para nós. Teremos que aceitar o retorno para casa que é sempre amargo. Restará a desistência como forma de começar algo novo. Abandonar o que já não serve, serve. Apazigua o coração, acalma a alma, diminui o inchaço.

Ficaremos bem. Todo mundo fica bem. Não há dor que não possa ser curada com o tempo. Todo amor diminui com o tempo. É uma regra. E sem exceção!

O que não é revisitado morre. Não chegaremos aos 202 anos.

Leandro Lima
QUAL MOMENTO?
Fabrício Carpinejar

Não há como definir o motivo para terminar com alguém. O que gerou a separação? O que provocou a absoluta segurança de encerrar o romance e abdicar do final feliz? Como que ocorre a transformação da companhia íntima, a qual se dividia segredos ao longo de anos, em uma estranha desaforada querendo arrancar o teu siso de ouro em uma vara de família? São movimentos subjetivos e sísmicos que definem a ruptura. Não é o peso, o rosto, as pernas que norteiam o amor. Nada o esclarece, muito menos o seu final e o distanciamento do tempo. O amor inicia na incompreensão compreendida, a confusão saborosa da identidade de não pensar em outra coisa, e termina em compreendida incompreensão, na confusão desastrosa da identidade de não querer pensar no assunto por mais um dia. De que modo algo que prometia aventura resulta na mais ferrenha apatia? Como um jogo com primeiro tempo eletrizante reduz o ritmo no segundo tempo e se conforma com o resultado? 

Em que canto da memória, em que momento se toma essa decisão de que a pessoa com quem se vive não presta mais, de que foi um erro, de que se perdeu tempo ao lado dela. O que faz um homem ou uma mulher largar aquilo que considerava, uma noite atrás, seu santuário, seu universo, sua segurança. De onde parte esse instinto utilitário de que o par é um carro importado e é muito cara a reposição de peças. Não acontece de repente, tenho certeza. Tudo começa com a resignação, na certeza equivocada de que se sabe tudo. Quando se põe na cabeça que se cumpriu a apresentação, que não existe nenhuma surpresa porvir. Quando se deixa de perguntar para adivinhar as respostas. Quando se deixa de responder por não suportar as perguntas. Quando uma conversa com casais termina no insuportável álbum de retratos. Quando não se fala mais dele ou dela como uma novidade, porém como uma doença antiga, uma enxaqueca, uma tia distante. Acreditar que se domina a situação é pisar em falso. Amor não se assinala no calendário. Ou existe gente marcando uma ida no motel em agenda? O amor aceita apenas fiado. As dívidas aumentam sua longevidade. É falta de controle, imprevisto, improviso, nervosismo. Sem a covardia atenta, não há sedução. Sem o balbucio, não há sinceridade. Ninguém conhece tão bem o outro a ponto de dizer que verdadeiramente o conhece. Não vi mulher que não é no mínimo duas. Em algum lugar do corpo, desliga-se o aparelho. Fecha-se a conquista como se fosse um expediente comercial. Conquistei, ele é meu, ela é minha, deu. Abdica-se do esforço de explorar a personalidade em conversas e saídas noturnas. A tensão esfria e cada um se deita pensando uma forma mais rápida de se cumprimentar, de existir e, se possível, não se tocar. O beijo de despedida vai se especializando em acenar, tornando-se uma prova com barreiras. E não adianta seguir conselhos de amigos. Em estado vulnerável até leitura de horóscopo convence.

O único erro é confiar que o namorado ou a namorada, o marido ou a esposa, dentro de si é maior do que a figura que está fora, de carne e osso, mais carne do que o osso, apesar de estar mais interessado no osso para enterrar do que na carne para dividir a temperatura. A atração enreda, a convivência consolida, o tédio estremece, porém unicamente a falta de humor separa. Quem não tem defeitos também não tem virtudes. Rir dos limites e dos erros do relacionamento, por mais estranho que seja, é uma espécie de liberdade. Uma liberdade que só pode ser gozada a dois.

7 comentários:

Anônimo disse...

"Nada mudará a ordem das coisas, nem chá, nem chuva, nenhuma lágrima limpará o nosso nome."

Lindamente triste o seu texto, Leandro!

A morte de um amor tb acaba por nos matar, não é? Não é só o amor que morre... morremos junto, nem que seja um pouco de nós... aquela parcela que descobriu, tampos atrás, que a felicidade seria eterna ao lado do ser amado.

Mas o amor é efêmero... e por isso belo, e por isso triste...

Beijos (e que vc fique bem...)

Shuzy disse...

Triste isso...
'quanta saudade eu sinto dos meus ontens'

¬¬

Gislãne Gonçalves disse...

"Algumas pessoas não são feitas para nós" DEFITIVAMENTE!

Keli Wolinger disse...

Leandro,

O amor nunca morre, ee só troca de sepultura (corpos em que pulsam corações).

O louco sentimento habita do lado de dentro, um morador insistente por mais quem venham as interpéries ele permenece fiel a esperança.

Abraços, Keli

Mailson Furtado disse...

Belo post, belo espaço!

Parabéns, muito bom mesmo!!!

Conheça o meu espaço...
http://mailsonfurtado.blogspot.com

Ana Helena disse...

deu um aperto..

Nathalie Campos disse...

Nem sei se é pior ou melhor para mim,dizer que por isso passo, não sei se me orgulho de ter vivido um amor ou se lamento por tê-lo perdido em meio a emaranhado de palavras jogados em momentos de raiva.
Este texto me emociona,me enfurece,mas principalmente me faz repensarem não confundir o melhor como que é certo.
Parabéns!