terça-feira, 21 de setembro de 2010

Sinceridade... Tem certeza?

Até onde iremos pela sinceridade? Por qual motivo cobramos tanta sinceridade? Pelo prazer contraditório de se satisfazer de honestidade? 

Ser sincero não abriga mais honestidade; traz a mágoa nas mangas, apenas. Dane-se a consciência! Vou continuar dormindo entre os meus conceitos. E de coração puro. Não falar o que penso não me torna menor.

Perderemos a compostura, perderemos os amigos, perderemos o amor. Perderemos o juízo diante da verdade. Não há verdade que seja absoluta, nem a verdade se suporta, por que nós a suportaríamos? Sinceridade é revirar a casa, deixar de pernas para o ar por causa de um grampo. Vai bagunçar a casa por causa de uma meia velha? Prefiro ir descalço.

Não estamos adaptados para receber a crítica. Dói aos ouvidos. Toda sinceridade vem como um tapa. É um massacre com as palavras: vai doer!

Sinceridade é a violência da honestidade.

Nunca ouvi uma sinceridade contida de desaforo, contida no conforto. Deixa de ser a calmaria. Todas foram fúria, uma tempestade a bagunçar os cabelos e espumar a boca de raiva. Traz saldo, traz cobrança, traz desavença. Veio sempre como uma faca, como um gancho que rasga da boca para o peito. Não consola, esnoba.

Fácil falar em sinceridade, fica difícil para colocá-la em prática e quase impossível voltar com ela pra casa.

Leandro Lima
CONTRA A FALSA SINCERIDADE

Fabrício Carpinejar

Não desejo que seja sincera. Você pode mentir. Você pode inventar. Você pode deixar de dizer. Não ficarei magoado. Nunca ouvi coisa boa quando alguém foi sincero comigo. Nunca ouvi uma declaração de amor. Uma declaração de fé. Uma declaração de confiança. Com a sinceridade, suportei despedidas, críticas e desaforos. Fui demitido ou avisado do fim do namoro. Não fui promovido, abençoado. Não me ressuscitaram com a sinceridade. Não recebi pedido de casamento. Não me salvaram com a sinceridade. Não me resgataram com a sinceridade. Não tiveram pena, compaixão, compreensão com a sinceridade. Ser sincero é uma condição que traz unicamente cobrança, ajuste, saldo.

"Posso ser sincera?" é sinônimo de "agüente sem gritar". Expressa arrogância. Sou contra a catarse de falar para ocupar espaço. Falar para exorcizar, para  esvaziar a consciência. Dane-se a consciência! Não me alivia falar. Não me alivia jogar para fora. Demoro-me porque pretendo jogar dentro. Criar raízes nos seios.

Ser sincero é afastar, repelir, é maldade comportada. Prefiro um ódio selvagem a um ódio civilizado. Um ódio civilizado é rancor. É recalque. Recuso o rancor. Recuso o que finge espontaneidade.
Essa franqueza não ensina, machuca. Essa franqueza debocha. Tiraniza. Não seja sincera comigo. Não me faça sofrer em nome da honestidade.  A honestidade nada tem a ver com isso.

Que me engane com promessas. Que me prometa o que não fará. Que me prometa mesmo que não confie. Que me prometa como forma de começar a confiar.

Guarde um pouco de você para depois. Deixe adivinhar. Não me conte tudo. Deixe pressentir. Não me conte tudo.

Não estou exigindo que fale mal de mim pelas costas, mas que também não seja de frente. Que tal de lado?

Falar o que se pensa não é falar o que se deseja. Não quero saber de transparência na relação, nem a verdade é transparente.  Não conheço ninguém que tenha sido franco para proteger, para cuidar, para acariciar. Desde quando se pede licença para bater? Não dou licença, não permito a sinceridade que seja violência, tiro os óculos apenas para beijar.

Não me diga o que pensa. Em sua sinceridade, não encontrarei opiniões agradáveis. O que vem à cabeça não é a cabeça.  Não seja sincera comigo. Pode ser sincera consigo, com os outros, com os pais, com os amigos, comigo não. Não pedi sinceridade, pedi amor. O amor não está nem aí para o que acreditamos e deixamos de acreditar. Ele acontece apesar de nós.

10 comentários:

Ju Fuzetto disse...

Belissimo texto!!

Perfeito!!

O amor acontece. Aqui. lá, em qualquer lugar e não espera por nada!! Ele é nutrido pela beleza e gratidão dos corações!

beijo

Kéfhane disse...

Lindo texto, achei interessante a sua visão sobre a sinceridade, nunca havia enxergado por essa ótica.

Bjos

Gislãne Gonçalves disse...

"Fácil falar em sinceridade, fica difícil para colocá-la em prática e quase impossível voltar com ela pra casa"

acho que o mais dificil é voltar com ela e mais dificil permanecer com a sinceridade.

belo texto

:)

Anônimo disse...

Oi , Leandro !

Adorei seu texto , escreve bem , com clareza ...
Sinceridade , palavra delicada ...

BjO e te Sigo ...

Anônimo disse...

Olá eu sou a Gislãne do blog Mudanca.com, criei um blog dedicado a Jose Saramago

dê uma olhada

bjins

Renata de Aragão Lopes disse...

"Sinceridade... Tem certeza?"

Apesar de tudo que disse,
sim, eu tenho certeza!

Sempre opto por dizê-la.
E sempre peço para ouvi-la.

Já é tão difícil
lidar com o outro.
Imagina se eu ainda
fosse me privar
de assumir o que penso?

Arrisco afirmar
que, sem sinceridade,
sequer existe
algum relacionamento.
Real, concreto.
De troca e entrega.

Um beijo,
Doce de Lira

Marcos Vinicios Rodrigues disse...

Lindo texto, fala o que tem que dizer de uma forma um tanto quanto poética.

Gostei muito, e voltarei para ver mais... *--*


Se quiser, dê uma passadinha no http://occhistrabici.blogspot.com/ , onde coloco meus textos e inspirações.

Abração!

Lua Nova disse...

Meia-mentira também é meia-verdade... Sinceridade sim, mas sem perder a ternura!
Adorei o texto... forte, objetivo e muito bem escrito.
Beijokas.
Seguindo...

Mary disse...

nosssssa perfeito adorei muito!

Luzia Medeiros disse...

Acho que fiquei meio dependente dos seus textos. Sempre leio, eu sou aquela que uma vez te mandou um email. Bem, fiquei um tempão sem graça, era amor e eu não estava conseguindo lidar comigo, acho que até hoje é dificil. Mas o fato é que a sinceridade é mesmo dispensável, ela pode ofuscar ou mesmo estragar coisas fundamentais. Eu concordo! Beijos!