terça-feira, 13 de julho de 2010

Banalidade




Vivemos na banalidade. Vivemos banalizando e banalizado pelo outro. Temos, todos, uma dorzinha de estimação e, por causa dela, tomamos atitudes que nos deixam a desejar, faltamos no gesto, trocamos as mãos pelas pernas. É um trauma, um medo doido de que possa acontecer de novo. Certo?

Tornamo-nos evasivos, egoístas, preenchemos a mão com quantidade e não com qualidade. Sobram números de telefone. Isso significa temer o relacionamento e ter cinco bocas diferentes para beijar. Ter um só rosto não é o suficiente, não supre as nossas carências, nossas necessidades amorosas, nossas capenguices. Queremos a liberdade para se desprender.

E mesmo as cinco bocas diferentes deixarão, depois de um tempo, de servir. Buscaremos outras bocas. E depois outras. E mais outras. Viveremos em uma busca frenética. Um procura louca pelo “novo”, pelo diferente, pelo que não tínhamos ontem e queremos, quase que desesperadamente, hoje. Uma busca pelo que nos completa, pelo que melhor se encaixa nos nossos padrões. Viveremos armados até os dentes. 

Usaremos de todas as armadilhas para a captura. É uma caçada a um bem maior: ao amor. Somos assim: firmes e tortos aos conceitos.

Nunca estaremos satisfeitos. Somos orgulhos a ponto de não aceitar a solidão, o tempo “off” entre um amor e outro. Beira a arrogância não aceitar um sábado à noite, em casa, com um filme repetido. Achamos que a solução é enfiar logo alguém em nossa vida quando o melhor seria pegar um cinema sozinho, observar como os pássaros são belos solitários, caminhar sem pensar em se atrasar, observar o vento beijando as flores, mascar um chiclete com um pé na calçada e outro no tempo. Por isso vivemos pulando de galho em galho, somos animais com sede.

O atraso está em nós. Vivemos nos comparando ao carro ao lado, queremos a mesma velocidade sem ter noção do ponteiro. O ponteiro do outro já é o nosso. Fugimos da nossa velocidade para usar a do outro.

Ainda vale insiste no outro. Teste sua resistência. Ceda com certo charme. Peça a rua para atravessar o corpo. Importe-se. Difícil é ceder à paciência: permitir-se conhecer o outro no tempo dele, não no nosso tempo “sem tempo a perder”. Exaltamos o primeiro defeito e o resto já não importa.

Se escreve bem, se fala bem, se abre a porta do carro, se faz um arroz fabuloso, se toma o suco depois, tudo isso importa!

“Ele não tem a vida resolvida”, “ela é baladeira”, “ele falou algo que não concordo”, qualquer coisa serve para se desistir. Insista. Achamos que isso é definitivo e abandonamos. Tudo, nessa vida, não passa de uma fase.

Por isso não temos mais grandes histórias de amor: desistimos na primeira parada de ônibus. Insistir anda fora do roteiro.

Amar é sair do próprio corpo para tentar o do outro.

Leandro Lima

6 comentários:

Silvia Carolyne disse...

“Ele não tem a vida resolvida”, “ela é baladeira”, “ele falou algo que não concordo”, faltou "Ela mora longe d+"... rsrs... =*

lídia martins disse...

Admiro sua coragem.

É um convite à redenção.

Anônimo disse...

Nossa, adorei! vou voltar seeempre para ler seus textos!
bjss

http://the-worldofthoughts.blogspot.com/
Me segue?

Mary disse...

Nossa, adorei! vou voltar seeempre para ler seus textos!
bjss

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Me segue?

Pérola Anjos disse...

Que exista sensibilidade o bastante para que novas histórias de amor sempre sejam escritas... e reescritas.
Beijos!
Gostei muito do seu blog. Voltarei!

Micaela Araújo disse...

adorei seus textos, seguindo aqui! Um beijo.