domingo, 28 de fevereiro de 2010

Na Saudade


Depois do amor, a saudade é o sentimento que mais me consome. Saudade do pai, de um amor antigo, de um grande amigo, de ser quem deveria ter sido e não fui. E de quem já fui e não posso ser mais.
Minha saudade é tanta que tem que terminar com “s”. Saudades. Um exagero bem apertado.
Saudade é a desconstrução instantânea de quem somos para espiar o que fomos, o que sentimos... O que vivemos.
Saudade é uma canção tocada no piano, o piano chora ao lamentar essa nota. Saudade vira canção ao fechar os olhos. O vento aprende a cantar rapidinho.
Saudade sempre me tira de onde estou para revisitar o que não é mais. O peito rasga uma vontade imensurável de apagar o mar. O céu se abre como mágica para iluminar o rosto. O teu desenho cria vida na imaginação. Refaço os passos para o teu encontro. Volto no meio do caminho. Esse caminho não existe mais.
Paro. Sento os cotovelos para me permitir voltar onde me confortei. Já tive um coração, quase aprendi a usá-lo e se não fosse pela falta de jeito com as palavras, teria ficado com ele. Aprendi a pular amarelinha, a correr na chuva, a andar descalço, a beliscar uma fatia de amor. Todas essas coisas saltam da gaveta ao limpar as folhas do quintal.
Mas lembrar de quem amamos em alguma época de nossas vidas é uma alegria que dói, é uma raiva que acalma, é uma lágrima num sorriso no canto da boca, uma missão quase que cumprida, mas abortada pela incompetência de não acreditarmos no tempo, no Amor. É quando a mão tenta segurar a boca para não inundar os cílios.
Lembro quando tínhamos o mundo em nossas mãos, quando não precisávamos de mais nada para sorrir. Nossos risos eram os lençóis da nossa alma: encobriam as nossas tristezas, nossas histórias mais profundas, nossos medos mais perigosos.
Suas manias se tornaram as minhas. Sou uma réplica fiel do que é assimilar alguém.
Música e cheiro são os instrumentos mais letais da saudade, juntos desenterram as lembranças, desempoeiram o livro, trazem os óculos e a cadeira para a releitura, colocam o coração em cima de mesa e esperam pela prece. Essa prece nunca virá, assim, definitivo: nunca! Tornamo-nos crianças indefesas, eles nos pegam pela mão e nos fazem berrar de desespero no meio do supermercado ao ver uma lata de leite condensado.
O problema é que nunca vamos embora completamente. Relembrar você é, ainda, uma forma de ter você aqui. Você não foi embora. Você nunca irá. Você deixou um pedaço seu aqui comigo, que me dilacera a cada dia. Lembrar de você é morrer aos poucos, um pouquinho a cada dia.
Saudade é o meu sentimento mais fodido, mais pesado, mais humilhado, mais sufocado, mais eterno, mais nobre, mais machucado, mais impossível.
Saudade é o meu amor, por você, arquivado.

Leandro Lima

4 comentários:

Naty Araújo disse...

Nossa, Leandro, que profundo seu texto!
Enquanto lia... refletia sobre minhas saudades.
É uma dor que vale a pena sentir, pois mostra que nosso passado foi real, que valeu cada minuto que passamos e queremos sentir novamente.
Saudade é como o amor e ambos são como outros sentimentos... Podemos ficar horas e horas, gastaríamos milhares de folhas e mesmo assim ainda haveria tantas outras coisas para serem ditas sobre esses sentimentos.

Um belo texto para começar a minha semana refletindo sobre o que vivi e o que posso fazer para viver com mais intensidade.

Vou seguir seus passos porque gostei de tuas palavras e pessoas tão boas assim merece serem lidos sempre.

Abraços. Tenha uma semana excelente.

B. disse...

Um dia eu choroo contigo!
shaiushiusahs'
Adoreei seu texto!
Saudade é uma coisa que tenho sentido muito ultimamente =/

:)

Cleice Souza disse...

Boonito esse teu texto. Bonita tua forma de despejar as palavras no espaço em branco. Bonito o teu blog.

O texto me arrancou suspiros; me trouxe alguns fragmentos das minhas saudades e alguns -imaginários- da suas.

:)

Unknown disse...

Demorei um pouco pra entrar aqui no teu blog, culpa da correria do dia-a-dia, mas enfim, que lindo texto! Nossa saudade é um sentimento tão malvado as vezes, o pior é qnd sentimos saudade de uma pessa q esta em nossa frente todo dia, mas é impossivel voltar no tempo!