sábado, 27 de fevereiro de 2010

Na Amizade

 

Mudei de trabalho. Na verdade, mudei só de endereço. Passei um ano em um departamento Educacional. Já estava criando raízes – como dizem por aí.
O mais interessante é que dificilmente tento criar laços de amizade em local de trabalho, mas, dessa vez, não tive como escolher, não tive escolha mesmo. Amizade de verdade não vira escolha, ela escolhe a gente.
Fiz um grande amigo. E não precisei me esforçar para ser premiado. O prêmio foi um condicionamento aos meus gostos: biscoitos na hora do lanche. A simplicidade que tanto prezo e cultivo. Uma referência para quem se gosta. Uma reverência. O que surpreende é a diferença de idades. Amizade não tem idade, sexo, cor...
Durante alguns meses tive a oportunidade de saber o que é ser importante para alguém, mas importante mesmo. Não é aquele sentimento barato, não é o tal “piegas” que todo mundo conhece. E usa. É um sentimento que não precisa de palavras para entender os gestos, a camaradagem, a meninice que existe na amizade. Na mulecagem temos a mesmo idade. Voltamos ao berço. É simples, indolor e não precisa de água para sobreviver.
O mais difícil foi a despedida. Nenhuma despedida é ou será fácil. Não há preparação na despedida. Despedida só nos prepara para uma tristeza arranjada. O coração vai doer. O ceú vai chorar.
A despedida foi algo bem desajeitado, um pouco de timidez, acanhamento e incredulidade. Só começamos a creditar depois que os olhos já não encontram mais o outro. O abraço quase não encaixa. As mãos quase não se largam. Só mostramos uma parte do sentimento. A outra parte só observa, fica no bolso para quando solicitada.
Resta ir embora, olhar para trás e fotografar o ambiente, gravar o cheiro da sala, catalogar o rosto de quem sempre lhe serviu a mão na hora da chuva. 
Não voltei sozinho para casa, voltei com um amigo no peito.
Vou sentir falta. A saudade muda de endereço comigo, ficará mais violenta se mudar de razão, se não revisitá-la.
Essa amizade é fraternal. Meu novo amigo foi promovido a Pai. Ou algo bem próximo a isso. Meu novo amigo tem 68 anos.
Leandro Lima

Um comentário:

Janaina F. disse...

Tô precisando de um amigo assim