segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Em Preto E Branco



O primeiro sonho do ano (que lembro), e você aparece. O famoso almoço em família. Uma retrospectiva ao réveillon de 2007, um recorte em preto e branco de uma época marcante, lembrada por uma música do Maroon 5: quando fui mais feliz. Quando você me convenceu de que nada dura para sempre. Era o começo da despedida.

Abri logo as gavetas para reencontrar as cartas, recontar a pele, relembrar o cheiro do amaciante que sobrava das roupas, espiar o urso que tinha meu apelido como nome... Mas tudo ficou lá, contido no tempo, cristalizado na memória. Nada voltou comigo. Difícil achar o ponto em que se quebrou a corrente. Tentei encontrar algo que me levasse de volta ao sonho, mas nenhuma porta mais se abria, enferrujadas pelo tempo, pelo ar que cerca de ausência. É assoprar a poeira da capa das lembranças.

No amor, não existe última vez ou último sonho. Existe “mais uma vez”, a “penúltima vez”. Nenhuma carta de amor será a última. Nenhuma sílaba virá desacompanhada. Somos a repetição do sentimento, das palavras. 

Porque amar é se repetir, é sonhar com o que já se foi; com o que partiu, mas continua aqui. O que muda são os personagens, o destinatário, o caminho para se chegar a eles. Mas o assunto será o mesmo.

Qualquer tentativa de expurgá-lo será um fracasso. Você pode achar que conseguiu, mas continuará lá. O amor é sacana. Diz adeus quando vai voltar. Voltará em um sonho, em um filme, em um sorriso de uma desconhecida, com um livro nas mãos para a releitura. Ou com o cheiro de um doce. Será fácil. Fácil como apanhar o sal ou o vinagre. Será sempre reconhecido pelo corpo. Inesquecível como andar de bicicleta. Dá pra sentir o vento esfumaçando os cabelos.

Sonharei com você de novo. Você me visitará, sem saber. Recontarei nossa história no meio da madrugada. Usarei da mesma letra para encobrir o desejo. Reconheço que o amor continua aqui. Reconsiderar um amor é a mais bela forma de gratidão.

Mas tudo isso não significa que ainda te amo. Não desistiria do mundo por você, não morreria para te ter de novo. No máximo, acenaria de longe com o início de um sorriso no canto da boca. Depois de algum tempo, você percebe. É como perder as chaves de casa: não sabe como perdeu, só sabe que perdeu.

Amores antigos continuarão a nos revisitar, mesmo que em sonho, é compreensível.


Mas foi quando não mais consegui te escrever que percebi que superei.

Leandro Lima

5 comentários:

Alana Bonamigo disse...

nunca tinha parado pra pensar que sempre voltam, de alguma forma. Lindo texto.

José María Souza Costa disse...

Achei o seu texto brilhante, avassalador
Passei aqui lendo. Vim lhe desejar um Tempo Agradável, Harmonioso e com Sabedoria. Nenhuma pessoa indicou-me ou chamou-me aqui. Gostei do que vi e li. Por isso, estou lhe convidando a visitar o meu blog. Muito Simplório por sinal. Mas, dinâmico e autêntico. E se possivel, seguirmos juntos por eles. Estarei lá, muito grato esperando por você. Se tiveres tuiter, e desejar, é só deixar que agente segue.
Um abraço e fique com DEUS.

http://josemariacostaescreveu.blogspot.com

Gislãne Gonçalves disse...

Os amores sempre voltam.

Voltei a postar no blog Mudanca.com
Beijos

Keli Wolinger disse...

Leandro,

Um novo calendário de boas histórias para você.

Tão sincero, simples e unicamente encantador.

Grande abraço,

Keli

Minny disse...

puxa amei seu texto..
o amor sempre vem nos visaitar mesmo que em sonho..
achei de uma sensibilidade unica...
parabens leandro..