sábado, 13 de novembro de 2010

Quando Nos Tornamos Assassinos


Sou um assassino. Você também é. Todos somos.

Somos assassinos amorosos, é desse crime ao qual me refiro. Mortes líricas.

Quantas vezes você assassinou o amor? Pense um pouco.

Você verá que ainda existe culpa, que ainda há sangue em suas mãos. Você tenta esconder de todos e fez de tudo para não deixar pistas: rasgou fotos, queimou cartas, modificou os hábitos, devolveu as alianças... Verá que foram mortes estúpidas: uma ligação que deixou de fazer, um beijo que não quis conceber, um abraço dado sem ênfase, um sorriso que não veio, um dia que se tornou morno.

Você armou o cenário, fez armadilhas, disse as maiores barbaridades para ferir o outro, um corte profundo em todo o afeto e carinho recebidos. Acertou em cheio. Apostou que conseguiria fugir sem ser notado, sem ser reconhecido. Usou de todas as artimanhas para não ser pego. Exagerou no veneno. E você conseguiu. Você destruiu um amor.

A discussão vira um tiro à queima-roupa. A briga simboliza o começo da despedida, um aceno ainda visto de longe que, daqui a pouco, estará colado na sua pálpebra.

O amor pedirá ajuda, você virará as costas. Deixará o amor agonizando. É o pior jeito de deixar algo morrer: aos poucos. A dor será sentida em todas as extremidades. Dói onde não foi beijado. E você estará matando dois indivíduos, quem costumava te amar morrerá junto. Tão e unicamente junto. Uma morte sem chance de defesa.

Somos especialistas em mortes amorosas. Todo amor morre silenciosamente, sem alarde, com a compaixão de um travesseiro. Morre por causa de uma frase e com um copo nas mãos. O enterro vem com a lembrança da frase e o copo vazio.

Da porta do quarto para fora, somos outro, um personagem, vamos fingir alegria, dar pulos de felicidade na frente dos amigos para não ser indiciado pelo crime. O objetivo é matar logo e esconder o corpo. Escondemos o corpo do outro no nosso próprio corpo, no nosso pensamento, do nosso jeito.

Mortes lentas, patéticas, com a gravata ainda sendo ajeitada. O sorriso acoberta o crime.

Quantas vezes você assassinou o amor? E mais: quantas vezes assassinaram o seu amor?

Leandro Lima

2 comentários:

Emi disse...

Pois é, um texto de ótima reflexão. Já disse várias vezes a mim mesma que o amor é o mais irônico dos sentimentos, mas a verdade é que a gente só percebe, de fato, o perigo do amor quando ELE nos assassina.
Adorei o texto, Leandro!
Beijos!

Dana Vianna disse...

Já matei várias vezes.. e friamente! Totalmente consciente! =s TRÁGICO! =x

ÓTIMO texto, como sempre!
Beiijos