terça-feira, 1 de junho de 2010

Mandala



Muito tempo é pouco para quem quer amar. Amar é um truque místico de formulação de outra opinião: ouvir o jazz que você não suportava, aprender a tocar bateria, passar a usar vermelho, usa-se outra forma de sorriso. Inventa-se outra língua. Cria-se um dialeto. Somente os dois apaixonados conseguirão entendê-lo.
Você aprende a desaprender o que sabia para aprender outras coisas. O amor é uma simples solução banal para a avareza.
O Amor é uma força invisível que torna o mundo de infinitas cores, que faz você achar um estúpido arco-íris um espetáculo teatral, torna uma música um filme grudento, torna a chuva uma novela, faz o sol gritar com mais brilho, faz tomar sorvete com os cílios.
O telefone toca sorrindo. Os travesseiros beijam o nosso rosto em uma espécie de boa-noite astrológica, as noites deixam de ter pesadelos, o sonho vem completo.
Falo tanto de amor e nem ao menos o tenho. Não, melhor, tenho! Só não tenho com quem compartilhá-lo. Deve ser uma daquelas pequenas tragédias desse mundão: tanto amor para mantê-lo em segredo, para mantê-lo sufocado de saudade desejo com um pano no rosto, que implode no peito. Amor jamais deveria ser segredo.
Amar é revelar até o endereço da alma.
Amor é doença que cura, uma doença que se alastra pelos quatro cantos do coração. Deveria ser reconhecido intergalacticamente. Deve ser conhecido intergalacticamente, até batata deve ter sentimentos. Uma explosão nuclear de ternura, uma devastação de todo o orgulho de qualquer indivíduo.
Continuo amando o que não tenho mais e nem faço ideia dos planos que terei que bolar para o que ainda virá. Você faz planos para viajar, não para amar.
Uso uma aliança pendurada no pescoço como mandala, tenho um pé de coelho atrás da porta, faço figa para estrela-cadente, observo o tempo enrolando o queixo. Crio a fé em cativeiro, tenho a esperança estimada em sorte. Ninguém me fará acreditar no contrário; amor é mais uma questão de sorte do que de destino. O destino se torna coadjuvante na leitura.
Tenho várias superstições, e uma delas é assoprar o copo antes da água inundá-lo, assim como assopro o peito para outro amor: quero a pureza. Um sopro cabalístico em direção à entrega incondicional: vou arriscar. Tenho que arriscar, só assim descubro as artimanhas do amor. Quero me empolgar em outro abraço, pareço criança esperando presente de natal em março.
Encontrar outro amor seria a quebra da minha guerra, um recesso para todas as minhas buscas, o sossego para as pernas, o antídoto para a inquietação, o cessar de todo o frio. Um contraponto exato para todo o tédio.
Vou permanecer na misticidade do amor. Na crença mágica das luzes. No acaso de esbarrar nos teus olhos entre os bancos da praça, compro bilhete somente de ida. Na volta, emendo para outro lugar, mas não retorno.   
Sou assim, conto mais com as forças do universo do que com hora marcada.
Amar é uma consulta para qualquer hora, sem planos.
Leandro Lima

8 comentários:

Unknown disse...

Oi, Leandro!
Gostei do texto, e especialmente da última frase "Amar é uma consulta para qualquer hora, sem planos".
Abraço!!

Winny Trindade disse...

Gente, mesmo traumatizada ( é assim que me sinto no momento) amei isso aqui.
Estou seguindo!

Abraço meu

lídia martins disse...

Como me disse um dia a menina Ziris.

"Cada palavra que se completa no papel, uma peça que faltava cola novamente ao coração."


Texto explendoroso.


Te abraço com cuidado.

Café e Anfetaminas disse...

Lindoooo...

Amei o texto, principalmente por eu ter tanta urgência de amor... de dar amor. Desse jeito aqui: http://falandopelosdedos.blogspot.com/2009/01/dos-meus-desejos.html

Beijos.

Victoria Lopez disse...

obg por visitar meu cantinhooo!!!beijoos

Karla Thayse Mendes disse...

Liiindo isso...
Encantada!
Beijo

disse...

Tanta inspiração!!!muito bom!
Bj

Amada disse...

Oi Leandro, estou seguindo o blog! Finalmente encontrei alguém que pensa o mesmo que eu penso a respeito do amor! Seus textos se encaixam completamente comigo *-* Uma boa noite e muita paz nessa vida, beijo meu ;*