Pra Você

                                     

Não me torno mais forte quando amo. Deixo de pensar em mim para pensar no outro. Eu entro pela porta depois, o outro vem primeiro. A paixão começa e o amor não termina. A paixão compreende e o amor planta as dúvidas. A paixão vasculha o que o amor descobriu.

Vou viver preocupado em agradar, em ter a mão sempre ao alcance para não fracassar. Não vou deixar o rádio do carro conversar sozinho. Enquanto não amo, estou preso na liberdade de não me preocupar com o relógio. O tique-taque é desperdício. Quando amo, o tempo diminui, as horas se comprimem e passo a viver atrasado. O tique-taque desaparece, se torna prece. Não consigo chegar cedo em mim. Vivo no outro, quando tento voltar, já errei o caminho. O coração pede calma. Os dias passam a ter bem menos que 24 horas.

Me apaixonaria fácil, fácil por você. Como já falei antes: o café já está quente e permanecerá quente para confortar com o vapor que nebuliza o rosto. Você é a idealização concreta do que sempre desejei. Seus olhos verdes são o que nenhuma palavra consegue definir. Eu não consigo. Prefiro você na indefinição, lembra? O teu sorriso será a cura para as minhas dores. Finalmente elas serão menos minhas. Vejo a luz no final do túnel.

Quero conhecer cada parte da tua alma e, ainda sim, viver torto de dúvidas por saber que ainda me resta muito a descobrir. Quero te redescobrir um pouco a cada dia. Quero que seja um mistério. O meu mistério. Quero que seja o meu cansaço, a minha pálpebra, a minha guerra mais pacífica, a reviravolta dentro da indiferença, a força mais devastadora na tranquilidade.

Perco o ar questionando a tua existência, a tua falta na minha vida. Seguro o peito pra não deixar transbordar o sentimento. A declaração vem depois. Tem que vir depois. Eu Acredito. Meu corpo desconhece sensatez no amor. Pra quê ser sensato? O amor pede tato, pede pele, pede carne. É um desejo inteiramente impessoal. O amor pode ser tudo, menos a lógica. Amar é justamente a falta de lógica.

Sou um louco-varrido, bem limpinho. Sou um bêbado jogando videogame. Sou mais o gesto do que a palavra. Um suicida lunático. Doidinho da Silva por você. Rasgo o céu pra te ver. Queimo o mar pra te ver. Torço o vento pra te ver. Troco todas as estrelas de lugar se preciso. Preciso de você.

Você seria mais forte do que eu. Você seria a fortaleza dentro da fortaleza. Eu seria o soldado sentado na frente do portão com os cotovelos sentados nos joelhos. O rosto fundo. O coração nas mãos e a vida no bolso. A minha vida no seu bolso.

Eu seria a conversa entre as folhas, a imagem trêmula de um lago a assoviar, a córnea cristalizada do oceano. Seria qualquer coisa pra poder te tocar. Pra te sentir. Preciso te sentir.

Aí entra a contradição. Não deveria me apaixonar por você. Tudo em mim estaria acabado se me apaixonasse por você. Você não aceitaria a mão, desconheceria o gesto altruísta, estranharia o beijo avassalador , negaria a paixão que te sufoca no meio de uma terça-feira à tarde, odiaria ter que se responsabilizar pelo indício que é se perder de si mesma, amaldiçoaria meus dias por não entender o que acontece quando fica perto de mim e, pior, quando fica longe também. Amar é isso mesmo. Amar é essa loucura desorganizada com afinco, sem querer.

Espero estar totalmente errado. Espero que minhas palavras não sirvam para esta carta.

Tudo em mim está acabado.

Leandro Lima