terça-feira, 25 de agosto de 2009

Meu Tempo De Escola



Lembro com afinco da minha época de escola. Sem muitas responsabilidades ou obrigações; era só estudar. Nunca fui muito influenciável e por esse motivo deixei escapar muitas aventuras por não ir na “corda” dos outros. Lembro que joguei muito futebol, mas não me pergunte, hoje, o que é um impedimento, isso eu não aprendi. Hoje não gosto mais de futebol, mas não esqueci os namoricos na hora no recreio. Nunca tive amigos à altura dos ombros, mas alguns chegaram a assoprar o rosto. Tive algumas paixões que nunca souberam dos meus sentimentos, pois sempre os cultivei dentro de mim e só pra mim. Fui egoísta.

Meu passado não me condena; meus amores, sim. Hoje me arrependo de não ter aproveitado aquele tempo. Aquele era o tempo de fazer algumas pequenas bobagens pra hoje eu relembrar com nostalgia e, quem sabe, com saudade.

Lembro que a escola era perto de casa e toda manhã eu traçava o mesmo caminho, conversava com as árvores só para me distrair e não deixava o sol se perder. Lembro que sentava na frente da professora na sala de aula e fingia entender as contas de matemática que mais pareciam códigos binários. Lembro do cheiro dos lápis de cor que se perdiam das caixinhas e apareciam namorando as borrachas só para não ficarem sozinhos na sala enquanto eu encenava uma desculpa na sala do diretor. Lembro das notas que me tiravam o sono e que me fizeram estender o ano em uma recuperação “físicaequímica”. Lembro dos concursos de redação que ninguém sabe que ganhei - esse segredo eu compartilhei com a professora de português que me condenou à escrita, à poesia, a escrever, pois eu tinha talento -, hoje agradeço a ela!

Lembro das falsas amizades que tive e o quão bobo eu era. Era muito fácil me enganar. Eu não tinha maldade na alma e tendia a ser enrolado para viagem e perder a reputação que eu não me importava. Eu era tachado de “metido” só porque não dava bola pra qualquer menina que se aproximava (era mais timidez do que soberba mesmo, juro!). Eu espiava todo mundo fazendo estripulias e apenas os ouvidos conversavam com os outros. Minha atenção era voltada para outras coisas. Todos os amigos pareciam se prender àquele mundinho e eu sempre achei que o mundo não se limitava àquilo. Queria mais. Queria descobrir o que estava se passando fora das mãos, queria o que ainda era oculto, o que era desconhecido. Enquanto muitos ouviam as mesmas musiquetas e se exibiam com os celulares que ganhavam dos seus pais eu já tentava imaginar como seria o meu futuro, como seria ser “gente grande” e encarar as verdadeiras coisas da vida. A metade do colégio me conhecia e eu nem sabia direito o nome do colégio. Troquei o nome da diretora pelo da servente. Me embolei feio, nunca lembrava os nomes dos bois. Os finais de ano eram a época mais triste porque alguns amigos iam mudar de escola e não os veríamos mais e aqueles momentos sempre viravam lágrimas. Odiava o tal do “amigo culto”, embora fosse gostoso se empanturrar de chocolate e passar a semana visitando o banheiro, mas era a confirmação da separação: as amizades se cancelavam sem chance para renovação. Alguns (poucos) conseguiam esticar o prazo de validade, mas era sempre por pouco tempo.

Cresci. Tudo passou e perdi a inocência e a gostosura de ver o mundo com olhos crentes. Hoje, tudo vira obrigação e nem aqueles amigos falsos eu tenho para perder a cabeça e travar uma batalha de personalidades (quando tive a oportunidade, hesitei). As coisas são pacatas e tranquilas. Meu olhar segue triste revelando tudo o que não ganhei e o que não consegui conquistar. Meus ombros cansados delegam o meu abandono do meu próprio ser. Meus amigos se foram como todas as outras coisas que se vão nessa vida. Virimexe encontro com um fulano e quando ouso perguntar como está ou o que anda fazendo é por pura educação - já não somos mais amigos para isso, não tento resgatar o que foi enterrado. Embora não do jeito que eu tenha idealizado, mas continua sendo minha vida. É isso. Ficou apenas o gosto do papel-cartolina que riscou com pincel as lembranças de minha boca. Algumas coisas sempre mudam, mas outras permanecem sentadas na cama a nos olhar.

Leandro Lima

4 comentários:

Algo de mim disse...

Sei lá, acho que vou parar de te elogiar. Vai ser tipo mãe falando que o filho é bonito sabe.. Vai se tornar redundante.. haha.. Bom, mas de qualquer maneira, mais um incrível pra você. Eu gosto do jeito que você escreve. Que história é essa de não acreditar nos elogios ein? É só ler o que você escreve pra ver que você é um ótimo escritor. Adorei o seu segredo com a professora, ao meu contrário, porque eu adoraria que a turma inteira soubesse, mesmo morrendo de vergonha. É bom mostrar quando a gente sabe que faz algo bem.. Também não era fã de amigo oculto, sempre tinha medo do momento 'adivinhação de quem recebe cada presente' e das descrições que fariam de mim. Sempre tive medo dessas coisas. Amizade é uma coisa complicada, mas a minha ideia ainda não é muito concreta a ponto de saber quem são os amigos falsos e os verdadeiros, dói dizer que isso ainda terei que descobrir. Eu queria conseguir guardar esse amor, e não dizer nunca. Esse sabor de "amei mas nunca lhe disse" é uma coisa amável de se ler. Eu acho lindo, mas é claro que com a beleza vem a dor, e eu sei que esse tipo de coisa presa na garganta, parece estaca, e dói muito. Mas volta e meia eu não consigo fazer isso, não consigo me prender ao 8 ou 80 e fico nos 55, embora eu queira muito escolher um número fixo. Bom, eu não sei mais quando o blogspot vai me proibir de pôr mais caracteres, talvez você nem tenha entendido muito bem o que eu falei aqui, foi mais reflexão pessoal. Adorei o que você escreve! Por último, queria saber se você tem msn ou alguma coisas dessas.. Só para que o nosso diálogo fique mais estável. Acho que eu gostaria de 'comprar' essa briga, pra mim a coisa mais legal em ter um blog é isso; poder debater sobre os teus escritos e os dos outros. Eu não tenho esse costume e é gostoso demais! Espero um comentário!
Beijos

Anônimo disse...

Ah, eu já fiz um post sobre isso também. É uma nostalgia. Saudades do passado e medo do futuro. Pelo menos é isso que eu sinto. Muito legal teu blog, Leandro. Gostei de te conhecer (mesmo que tenha sido só um pouquinho).

Beijos e boa sorte. :D

Unknown disse...

Sempre procuro algo q resgate o passado, principalmente sobre nosso tempo de escola. Depois de 30 anos o facebook nos proporcionou um reencontro de colegas de escola primária, e a escola q estudamos ficava no centro da cidade e era do primário até o ginásio, o colegial tínhamos q mudar de escola. Então as amizades eram de longas datas, cidade pequena, todos se conheciam... 30 anos mudou muita coisa, nossos rostos agora há marcas, expressões diferentes do tempo de outrora mas o sorriso, aquele olhar de meninos e meninas... ainda existe em cada um deles! Foi bom nosso reencontro, ja foram 3 ano passado e cada vz mais reencontramos velhos amigos, facebook foi nossa chave p abrir o baú e resgatar velhas e boas amizades! Bjs.

Carolina Torres Psicóloga disse...

Convido vc a participar de nossa plataforma sobre memórias escolares. Inclua sua experiência e compartilhe com outros estudantes ou adultos!
Aqui: http://pt.no-meu-tempo-de-escola.wikia.com/wiki/Wiki_No_meu_tempo_de_escola...